Golpe contra Lugo no Paraguai não pode ficar impune

09 jan 2016 . 15:24

Golpe contra Lugo no Paraguai não pode ficar impune

A reação da Unasul e do Mercosul ao golpe perpetrado contra o presidente Fernando Lugo pelo Congresso do Paraguai, dominado pela direita neoliberal, merece total apoio e ativa solidariedade da CTB, bem como dos movimentos sociais na América Latina e em todo o mundo. Submetido a fortes pressões dos vizinhos, o novo governo foi suspenso das duas instituições, que se reunirão em breve para debater a questão e provavelmente definir sanções mais efetivas contra os golpistas.

Brasil e Uruguai convocaram seus embaixadores em Assunção para consulta. Argentina e Venezuela retiraram seus diplomatas e comunicaram que só restabelecerão relações normais com o país após a restauração da ordem democrática. O governo de Hugo Chávez também cortou o fornecimento de petróleo. Os movimentos sociais se manifestam em vários países pela democracia e em repúdio ao golpe. Nesta segunda-feira, 25, cerca de 300 pessoas participaram de um protesto diante do Consulado paraguaio em São Paulo.

Os Estados Unidos, que adoram posar de campões da democracia e dos direitos humanos, externaram um discreto e envergonhado apoio ao golpe através de nota do Departamento de Estado, divulgada sexta-feira (22), que (segundo o portal Opera Mundi) “reconhece o voto do Senado paraguaio pelo impeachment do presidente Lugo” e pede “que todos os paraguaios ajam pacificamente, com calma e responsabilidade, dentro do espírito dos princípios democráticos”.

Washington já sabia que um golpe estava sendo urdido no país e seria desfechado (como de fato foi) pela via parlamentar, onde as forças conservadoras são amplamente majoritárias. Documento confidencial vazado pelo Wikileaks, datado do dia 23 de março de 2009, menciona claramente esta possibilidade. O império já manifestou interesse de instalar uma base militar no país, mas não obteve respaldo do governo Lugo, que foi eleito em 2008 com forte apoio dos movimentos sociais e em especial dos camponeses, que reclamam a reforma agrária.

Resistência popular no Paraguai. Junho de 2012. Foto ReutersResistência popular no Paraguai. Junho de 2012. Foto ReutersResistência popular no Paraguai. Junho de 2012. Foto Reuters

O golpe no Paraguai responde aos interesses imediatos dos latifundiários, intransigentemente contra a democratização da propriedade da terra, e não é um fenômeno isolado.  Está inserido num contexto mais amplo de reação conservadora ao processo de mudanças em curso na região e tem o mesmo sentido das iniciativas golpistas realizadas contra a Venezuela (2002), Bolívia (2008), Honduras (2009) e Equador (2010).

A reação da Unasul e do Mercosul é mais uma prova de que a América Latina vive um novo cenário político, liderado por políticos progressistas de diferentes matizes que advogam o desenvolvimento integrado e soberano da região e objetivamente se opõem ao projeto hegemônico dos EUA, cuja proposta de uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca) foi finalmente derrotada em 2005.

O golpe contra Fernando Lugo, eleito com a promessa de realizar a reforma agrária, revela também as fragilidades do processo de mudanças em curso e deve servir de alerta à classe trabalhadora, movimentos sociais e governos progressistas. A transição para uma nova ordem geopolítica na região, livre do tacão imperial, ainda não foi concluída e enfrenta sérios obstáculos. A direita neoliberal, representante dos latifundiários e das multinacionais, continua poderosa, não obstante as derrotas eleitorais.

É necessário ressaltar que os golpistas contam com irrestrito apoio da mídia hegemônica, cujo poder de fogo não deve ser menosprezado. A derrota definitiva dessas forças, que vai pavimentar o caminho para transformações sociais e políticas mais profundas, não será possível sem uma ampla e permanente mobilização popular e intervenção da classe trabalhadora. O golpe no Paraguai não pode ficar impune. Queremos uma América Latina democrática, sem golpes e golpismos, livre da ingerência e da opressão imperialista, orientada para o desenvolvimento soberano com valorização do trabalho, a solução dos problemas sociais e atendimento das demandas de sua sofrida população.

Wagner Gomes é presidente da Central dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil (CTB)

Texto publicado no site http://portalctb.org.br em 25/06/2012

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