Boleiros, Era Uma Vez o Futebol

08 jul 2014 . 12:06

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Boleiros, Era Uma Vez o Futebol

Brasil, 1998

Ugo Giorgetti

Com : Rogério Cardoso, Adriano Stuart, Flávio Migliaccio, Lima Duarte, Otávio Augusto, Cassio Gabus Mendes, Marisa Orth, Denise Fraga, João Acaiabe, André Abujamra, Elias Andreato


Por Carolina Maria Ruy

Num típico boteco paulistano, decorado com fotos de jogadores, seis amigos, profissionais e ex-profissionais do futebol, costumam manter longos e descompromissados papos, recordando velhos tempos. Cada observação remete a um folclore. Papo de bar. Casos pitorescos, lances e vinhetas ilustram a conversa.

A história do jogo “vendido” pelo juiz, em que o time de “pernas de pau” tem que ganhar de qualquer jeito, inicia com graça a narrativa. Na seqüência vem a história do Paulinho Majestade: um jornalista esportivo vai atrás do ex-atleta famoso que agora, na miséria, coloca todos seus troféus e medalhas à venda. Logo depois eles lembram de Pivete, e engatam num novo caso, em que um pequeno marginal se mostra um verdadeiro craque, ao se aproximar de escolinha de futebol, e ser convidado pelo professor a participar. Aí vem a história do Azul, um jogador que acaba de fazer o gol mais bonito de toda sua carreira (na verdade, o diretor usou o gol feito por Dener, considerado o gol mais bonito da década de 90), já nas transações milionárias da década de 1990. No quinto caso, corintianos fanáticos, estão determinados a fazer com que o craque do time, contundido, volte aos gramados. Passando por cima da perícia médica, quem resolve o caso é o bruxo “Vavá” (André Abujamra). O sexto episódio, Frio, que fecha o filme com atuação sempre competente de Lima Duarte.

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O filme é bem humorado, melancólico e nostálgico. Ele mostra que há, neste universo, uma lógica própria. Como disse o escritor Nelson Rodrigues, “muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos…”. De fato, muitos lances duvidosos, não podem ser contestados e viram novas lendas do futebol.

Futebol é coisa séria, mas passa ao largo das formalidades das outras profissões e envolve seus amantes em atitudes que, fora deste contexto, seriam impensáveis, como o misticismo do bruxo Vavá, que remete à superstição, outro clássico do tema.

O filme marca uma época em que o futebol assistiu a um processo de espetaculização. Mesmo que no campo sócio-cultural este esporte sempre representou um espetáculo, na década de 1990 houve uma explosão de comércio de bons jogadores, fabricação de celebridades do futebol, associação destes à grandes marcas salários estratosféricos, enfim, um esgotamento comercial e midiatico dos times e dos jogadores.

Este glamour não atingiu, entretanto, futebolistas de clubes menores, que representam mais de 90% dos profissionais, que ralam por baixos salários e vivem em grandes dificuldades.

Nem todos aqueles que ingressam nas divisões de base dos clubes de futebol alcançam o profissionalismo. E, para os que alcançam a carreira tende a ser curta, pelo menos para os jogadores. Curtas e intensas, daí a abstinência que abala muitos ex esportistas.
O que o filme não diz é que, como a maioria das profissões, os futebolistas também tem representação sindical para assistir a suas reivindicações. No Brasil, o primeiro sindicato dos jogadores de futebol foi criado em 30 de junho de 1939, no Rio de Janeiro.

A alegria do filme é que ele pode se deleitar na certeza de que nada disso ofusca o brilho deste célebre esporte. Em sua lógica própria o futebol tem demonstrado que é, do verbo “ser”, sonho e arte.


Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical

 

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