Linha de Passe

02 maio 2012 . 13:45

Linha de Passe 2008, Brasil Walter Salles Com: Sandra Corveloni, Vinícius Oliveira, João Baldasserini, José Geraldo Rodrigues, Kaíque de Jesus Santos

linha

Se em Central do Brasil Walter Salles fez da fórmula: miséria, humanidade, poesia e realidade igual a uma poção de beleza e um convite à reflexão, em Linha de Passe o mesmo cineasta forçou a mão numa visão tacanha e preconceituoso sobre a vida na periferia paulistana. Linha de Passe é o típico filme que leva a classe média remediada aos cinemas e arranca dela o clássico comentário: “é um soco no estomago”. Como se um soco no estomago, igual ao que já recebemos de montes valesse alguma coisa.

Verdade seja dita, estamos falando de um filme que aborda a vida com austeridade. A cuidadosa fotografia, engrandecendo pequenos detalhes do cotidiano de uma cidade que nos desacostumamos a contemplar, também é louvável. Além disso, para uma filmografia sobre o mundo do trabalho é um prato cheio. O trabalho perpassa todo o filme, como uma linha condutória não do enredo, mas da historia dos personagens.
Há a questão do trabalho da mulher, do subemprego, a busca da profissão, a injustiça social. Há a empregada doméstica, Cleuza (vivida por Sandra Corveloni, premiada em Cannes por este papel), há o frentista Dinho (José Geraldo Rodrigues) que divide seu tempo entre o culto e o serviço, há o motoboy Dênis (João Baldasserini), há o aspirante a jogador de futebol Dario e há o menino Reginaldo (Kaique Jesus Santos), que mata aula para procurar, nos ônibus municipais, o pai que não conheceu, motorista de frota. Cada um tem um pai diferente. Todos são filhos de Cleuza, e ela está novamente grávida.

Sem dúvida são ingredientes para compor uma obra de grande interesse. Seria de se esperar dela, então, diálogos e reflexões pertinentes, sobressaltos e uma delicada aproximação das pessoas, de modo a captá-las em sua essência, como o cinema sabe fazer muito bem.
Ao que parece Linha de Passe propõe uma ríspida releitura do neorealismo, corrente artística alternativa que procurava expor cruamente um recorte da realidade e que se consagrou no cinema. Se esta hipótese se verifica, a questão é se o que está representado corresponde mesmo à realidade. É provável que alguns casos reais se espelhem neste filme. Mas trata-se de uma regra geral? O perfil típico do pobre habitante da periferia é mesmo o do jovem alienado, malandro, que busca só se beneficiar? Da família desunida, sem regras e sem valores? Em muitos casos pessoas com dificuldades sociais chegam a este ponto. Em muitos casos pessoas sem dificuldades sociais também chegam a este ponto. Em muitos casos pessoas com dificuldades sociais buscam outros caminhos. A corrupção do caráter não está condicionada ao fato de se ter mais ou menos dinheiro.

No filme não há cumplicidade entre as pessoas. A “mãe” também não tem a força de uma mulher provedora de costumes e de idéias. Segundo o filme o serviço de motoboy, por exemplo, está impregnado com a criminalidade, de modo a contaminar todos os que exercem tal função. Não há solução. Também não há um problema definido. As dificuldades pairam absolutas, constituindo uma realidade fechada. Felizmente isso não é tudo o que se vê nos cantos remotos da imensidão urbana.

No cinema, a novidade seria mostrar como aqueles que vivem longe dos centros urbanos, imersos nas dificuldades e nas carências levam com boa vontade à vida e procuram fazer o melhor. Isso sim valeria a pena.

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