18 de anos de Força, pluralidade e democracia no movimento Sindical

30 abr 2012 . 11:32

Um dos grandes trunfos da redemocratização política no Brasil (décadas de 1970 e 1980) foi que os movimentos sociais deixaram de ser clandestinos. Na legalidade as diferenças internas destes movimentos ficaram evidentes, trazendo à tona seus confrontos ideológicos e programáticos.

No sindicalismo, o 1º Congresso das Classes Trabalhadoras (CONCLAT), em agosto de 1981 marcou esta dicotomia. A idéia da unificação, uma das principais pautas do encontro, foi refutada pelo embate ideológico interno à Comissão Nacional Pró-CUT.

As posições políticas extremistas, via de regra, encerravam-se em impasses e não se traduziam em resultados concretos para os trabalhadores. As propostas impingidas ou eram demasiadamente idealistas, e de longo prazo, ou visavam simplesmente a manutenção da ordem. Neste contexto, alguns sindicalistas sentiram que era necessário criar uma via de atuação comprometida com os anseios futuros e imediatos do trabalhador.

Um destes sindicalistas era Luiz Antonio de Medeiros. Diferente dos militantes esquerdistas de sua época, Medeiros era um líder político organizador e pragmático nas negociações. Sua postura flexível, e ao mesmo tempo focada na busca por resultados práticos, facilitava a aproximação dos trabalhadores.

Ex-militante do Partido Comunista Brasileiro, e já como presidente do Sindicato de Metalúrgicos de São Paulo, Medeiros dedicou-se a construir uma entidade que abrisse um novo caminho para o sindicalismo no Brasil.

O Congresso que fundou esta organização, batizada de Força Sindical, ocorreu no Memorial da América Latina, em São Paulo, no dia 8 de março de 1991, e contou com a presença de 2.500 pessoas. Em seu programa a Força se dizia independente e apartidária, e propunha-se a lutar por um capitalismo produtivo e democrático.

Nesta época já vigorava a Constituição de 1988, e muitas instituições do movimento social já estavam consolidadas. Em contrapartida, foi um momento de recessão econômica e de dispersão dos trabalhadores enquanto categoria organizada. Foi também o auge da crise do socialismo, com a queda do muro de Berlim (1989). Na década de 1990, sobretudo nos governos de FHC, as greves rarearam e o desemprego atingiu níveis inéditos.

A postura pragmática da Força atraiu lideranças que se tornaram resistentes ao discurso socialista. Por isso foi vista, por alguns, como uma Central de direita. Contudo, em sua evolução, a Central mostrou que surgiu de fato como uma alternativa inovadora, diferente de qualquer experiência anterior.

Ainda que fosse um rótulo atraente, o encargo de ser um novo modelo de sindicalismo custou à Força desconfianças e percalços. De qualquer forma, a Central surgiu ávida para interagir com os diversos setores da vida trabalhista. Entusiasmada pela ação, como qualquer nova criatura, a Força não tardou a amadurecer e se consolidar como uma das principais referências do movimento sindical latino-americano.

Além disto, a atitude pluralista e apartidária caracterizou a Central desde seu surgimento. Mas, se por um lado esta neutralidade partidária garantiu, nos primeiros anos da Central, uma ampla interlocução política, por outro a própria dinâmica do movimento exigia cada vez mais um posicionamento melhor definido.

Isto ficou claro nas eleições presidenciais de 2006. Enquanto uma parte da direção executiva apoiou o candidato Geraldo Alckmin, outros diretores declararam apoio ao então candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, atinando para uma inclinação mais progressista da Central.

Dezoito anos e alguns meses depois da fundação da Força Sindical, o Brasil vive um novo momento do sindicalismo. A criação de diversas entidades sindicais como, a UGT (União Geral dos Trabalhadores), a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), a Nova Central e o Conlutas, pluralizou a representação dos trabalhadores, fortalecendo a democracia. Está claro que o movimento unificado dos trabalhadores não se dará dentro de uma única Central.

Dirigida, desde 1999 pelo deputado federal do PDT-SP Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, a Força Sindical, rumo ao seu 6º Congresso, assume uma postura mais progressista. Isto se verifica na composição com o chamado “Bloco de Esquerda”, na participação do Fórum Social Mundial de 2009, em Belém do Pará, e no programa de preparação ao Congresso, que apresentaum caráter político e ideológico maduro, claramente comprometido com as classes sociais mais carentes.

E a Força não para de crescer. Entre o 5ª Congresso, em 2005, e junho de 2009, às vésperas do 6º Congresso, a Força Sindical passou da casa dos 700 para mais de 1.500 Sindicatos filiados, aumentando em mais de 80% o número de trabalhadores representados. Estas filiações, além de refletir o aumento do número de empregos com carteira assinada, resultaram da política ativa de afluência de Sindicatos e do perfildiplomático e carismático do presidente Paulinho, bem como da diretoria nacional.

Carolina Maria Ruy
Jornalista e pesquisadora

Comentários

Show Buttons
Hide Buttons