Conclat e as centrais

30 abr 2012 . 11:11


O Projeto de Lei Presidencial que oficializa as centrais sindicais, em curso no Congresso Nacional, é uma conquista para os trabalhadores e fortalece a democracia em nosso país. Com esta regulamentação Força Sindical, CUT, CGTB, NCST e UGT poderão participar de negociações e arrecadar recursos da contribuição sindical. De certa forma a Medida proporciona maior união entre as centrais, fazendo alusão ao projeto de unicidade apresentado no Congresso das Classes Trabalhadoras (CONCLAT), que em agosto deste ano, completa vinte e seis anos de sua realização. No CONCLAT as centrais sindicais que conhecemos estavam na fase embrionária e esta nova regulamentação consagra este processo que vem se desenrolando desde o fim da ditadura militar.
 
O sindicalismo, que havia sido dizimado pelo golpe militar brasileiro iniciado em 1964, começa a ser retomado ainda sob as barbas dos militares, no fim da década de 1970, fortalecido pela indignação da massa trabalhadora que, além da repressão política e do arrocho salarial, era enganada de forma descarada, como se verificou na manipulação dos índices da inflação de 1973 pelo governo federal denunciada pelo DIEESE em 1977.
 
Esta retomada foi marcada por um período de muitas greves, pelo surgimento de lideranças entre os trabalhadores e pela proliferação de ideologias e bandeiras. O movimento que crescia precisava de direção e logo em janeiro de 1980 a Comissão Nacional da Unidade Sindical, representando sindicalistas de todo o Brasil, reuniu-se no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e decidiu que os trabalhadores deveriam lutar por um salário mínimo real e unificado, garantia no emprego, reforma agrária e combate à carestia. Para isso, foram programados o 1o de Maio nacional unificado e a realização do 1o Congresso das Classes Trabalhadoras (CONCLAT) — que se realizaria em 21 de agosto de 1981 com a denominação de Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras. Os representantes sindicais diziam que a realização da CONCLAT era uma aspiração legítima — uma vez que o governo permitia a realização de evento semelhante pelos empresários, o Congresso das Classes Produtoras (CONCLAP). Proposta lançada por Hugo Perez no encontro com dirigentes sindicais com Ernesto Geisel, presidente da república na época.
 
O evento ocorreu entre 21 e 23 de agosto de 1981 na Praia Grande em São Paulo. Foi a primeira grande reunião intersindical realizada no Brasil desde 1964, com representações de várias facções do sindicalismo brasileiro (Confederações, Federações, Associações Pré-Sindicais, Associações de Funcionários Públicos e Sindicatos) e cerca de cinco mil trabalhadores, entre eles o Lula, que já era uma das grandes lideranças, o Joaquim dos Santos Andrade, Joaquinzão que foi Presidente dos Metalúrgicos de São Paulo, Antonio Rogerio Magri, presidente dos eletricitários de São Paulo e Arnaldo Santos, presidente dos metalúrgicos de Santos e o Zé Francisco que era Presidente da CONTAG. Na pauta constavam assuntos como: direito ao trabalho, saúde e previdência social, política econômica e salarial, problemas nacionais etc. Além disso, havia o projeto de criação de centrais sindicais que atendessem as demandas daquele momento da classe trabalhadora no Brasil. No plano de ação foi aprovado a convocação de um dia nacional de luta em 1º de Outubro e a indicação de uma greve geral.
 
O Congresso girou em torno da idéia da unificação, mas, o embate de dois projetos dividiu o movimento entre a CUT em 1983 e a CGT em 1986. Já em 1991 é fundada a Força Sindical pelo sindicalista Luís Antônio de Medeiros.
 
Desde então é crescente a participação das centrais sindicais no debate nacional. Atualmente elas participam do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo do Trabalhador (Codefat), Conselho de Segurança Alimentar (Consea), entre outros órgãos. Se na época do CONCLAT as centrais que hoje conhecemos estavam na fase embrionária, elas atingem o pleno direito à participação política.
 
Carolina Ruy – Jornalista

e pesquisadora

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