Os 70 anos do Sintetel SP e o avanço das telecomunicações

30 abr 2012 . 12:49

Fonte: Carolina Maria Ruy*

Fundado em 15 de abril de 1942, o Sintetel SP, Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações no Estado de São Paulo, chega aos 70 anos como o maior sindicato da categoria na América Latina, com base territorial em todo o Estado de São Paulo, representando cerca de 250 mil trabalhadores de diferentes empresas de telecomunicações.

A telefonia e os meios de comunicação estão entre os setores que mais se expandiram no Brasil nos últimos 70 anos. E, neste período, o Sintetel SP  foi pioneiro em importantes lutas como a conquista do Abono de Natal, quando não existia 13º, de férias de 30 dias, quando eram disponibilizados apenas 20, e a redução da jornada de trabalho das telefonistas de oito para seis horas diárias, na década de 1960.

Sobre esta última, vale ressaltar que o movimento projetou as mulheres do Sindicato, e que essa conquista virou Lei, fazendo com que em todo o Brasil as companhias telefônicas alterassem a carga horária de trabalho para 36 horas semanais.

Naquela época o país contava com pouco mais de um milhão de telefones para uma população de mais de 70 milhões de habitantes. Mais de 900 concessionárias de serviços telefônicos operavam no país sem nenhuma integração e com baixíssimo grau de padronização e qualidade.

Em 1962 a adoção do Código Brasileiro de Telecomunicações marcou
o surgimento de uma nova institucionalidade no setor. E em 11 de julho de 1972, durante a ditadura militar, para atender a demanda do intenso desenvolvimento das telecomunicações no país, foi criado o Sistema Telebrás – Telecomunicações Brasileiras S/A. Tal medida do pelo Governo Federal, que visava centralizar as telecomunicações, acabou com diversas empresas operadoras, provocando a demissão de milhares de telegrafistas.
Desemprego que foi agravado ao longo da década com o advento de  inovações tecnológicas, como o telex e o teleprocessamento de dados.

Enquanto o emprego arrefecia as telecomunicações se expandiam. Entre 1974 e 1977 o número de telefones em serviço subiu de 2,5 milhões para 4,5 milhões. E o número de telefones públicos, que era de apenas 13.000, ultrapassou os 31.000 ao final de 1977.

A demanda de mão-de-obra para operador de telex no Brasil atingiu o auge no início da década seguinte. Época em que o antigo modelo de prestação de serviços de telefonia foi posto em cheque. As constantes inovações no setor exigiam uma administração ágil e moderna. Mas o desafio estava em equacionar esta demanda, sem negligenciar a regulação do serviço.

Processo irreversível, a tecnologia seguiu ocupando o lugar de diversos trabalhadores. Mas a maior mudança não viria dos instrumentos de trabalho dos telefonistas. Viria do embate entre o público e o privado na gestão do sistema de telecomunicações brasileiro.

os70Em 1997, no auge do neoliberalismo, o governo federal instituiu a Lei Geral de Telecomunicações (LGT). A Lei, que abriu o mercado para os serviços de telefonia, resultou na privatização do Sistema Telebrás, em julho de 1998, em uma das mais polêmicas transações comerciais do Brasil.

A iniciativa privada impôs um ritmo de avanço frenético nas telecomunicações. Entretanto, as relações de trabalho no setor ficaram mais precárias. Os novos tempos foram marcados por uma grande expansão da área de telecentros, serviço que redefiniu o perfil dos trabalhadores representados pelo Sintetel. A Atento do Brasil, maior empresa de teleatendimento nacional, ilustra bem este quadro: possui aproximadamente 30 mil funcionários, dos quais, 80% a 90% são jovens com até 25 anos, a maioria mulher, ingressando pela primeira vez no mercado de trabalho.

Hoje esses jovens tornaram-se o principal alvo estratégico de organização do Sintetel SP nos locais de trabalho. Condizente com esta nova situação a atual gestão do Sindicato – 2009 a 2013 – renovou 52% dos quadros, resultando em 30% de mulheres, a maioria vinda do teleatendimento, inclusive com participação na diretoria executiva. O êxito dessas realizações pode ser medido pelo expressivo crescimento do quadro de associados e, sobretudo, pela participação ativa dessa população nas atividades sindicais.

O setor de telecomunicações é um setor com grande potencial de crescimento e geração de empregos, mas ainda carente de melhorar o sistema de regulamentação social. A luta do Sintetel SP é por local de trabalho adequado, por remuneração justa, por um sistema de oportunidades democrático, pelo fim da discriminação, do preconceito e de qualquer ordem de assédio, enfim, por um tratamento digno ao ser humano.

*Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Cultura e Memória Sindical

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