Sobre a fundação do Partido Democrático Trabalhista

27 ago 2013 . 13:04


sobre-1Fundado por políticos e intelectuais brasileiros em 1979 a ideologia do Partido Democrático Trabalhista (PDT) tem raízes no “movimento trabalhista” que se iniciou no Brasil a partir do início do século XX e ganhou força através da política industrializante do Presidente Getúlio Vargas. Grosso modo pode-se dizer que o trabalhismo varguista culminou com a fundação do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB em 1945, após a ditadura do Estado Novo, que reuniu e foi berço dos maiores quadros da história do trabalhismo no Brasil: Leonel Brizola e João Goulart.

O PTB teve uma trajetória inicial marcada pelo incentivo ao aprimoramento das Leis trabalhistas, pela valorização da democracia e, neste sentido, dos movimentos sociais. Exemplos disso são: a Campanha da Legalidade, protagonizada por Leonel Brizola, em 1961, pela posse de João Goulart na caso da renuncia de presidente Jânio Quadros, e a proposição das chamadas Reformas de Base, pelo então presidente João Goulart, em 1963, que abrangiam as reformas bancária, fiscal, urbana, eleitoral, agrária e educacional.

Com o golpe militar de 31 de março de 1964, entretanto, tanto Goulart quanto Brizola figuraram entre as personalidades mais atingidas pela perseguição e repressão políticas, tendo ambos que viver anos no exílio. João Goulart, o principal alvo da ditadura, morreu exilado no Uruguai, em um episódio cercado de suspeitas e passagens obscuras.

O PTB bem como todas as organizações de esquerda ou  de cunho progressistas, como o PCB, PCdoB, o CGT, a UNE, além de diversos Sindicatos foram impedidos de atuar tendo suas direções dizimadas pela polícia política do governo através de perseguições, torturas e assassinatos.

Com a morte de Jango em 1976, o fim do bipartidarismo e a iminência da assinatura da Lei da Anistia
sobre-2(28/08/1979), Brizola tentou reorganizar o antigo PTB. Porém, em seu caminho encontrou a ação concorrente de Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio Vargas, que também reivindicava para o controle da legenda PTB.

Após disputas judiciais, o TSE concedeu a legenda ao grupo liderado por Ivete Vargas, que agrupava políticos conservadores como Jânio Quadros e Sandra Cavalcanti (secretária de Carlos Lacerda da UDN) que não tinham identidade com os ideais históricos do partido.

Esta disputa em torno da legenda foi cercada pela suspeita de manipulação por parte de Golbery do Couto e Silva, o grande teórico do golpe de 1964 e braço direto dos militares, que visava enfraquecer o grupo liderado por Leonel Brizola.

Com isso o grupo de Brizola convocou políticos e intelectuais de esquerda que ainda estavam no exílio, como ele, além de personalidades que estavam no Brasil, para o “Encontro dos Trabalhistas do Brasil com Trabalhistas no Exílio” na cidade de Lisboa, Portugal, com vistas à reorganizar o movimento trabalhista no Brasil.

Deste Encontro produziu-se, no dia 17 de junho de 1979, a Carta de Lisboa, documento que continha as bases programáticas do incipiente partido. A Carta é considerada ponto de partida da história do PDT. Em um de seus trechos se lê:

“Analisando a conjuntura brasileira, concluímos pela necessidade de assumirmos a responsabilidade que exige o momento histórico e de convocarmos as forças comprometidas com os interesses dos oprimidos, dos marginalizados, de todos os trabalhadores brasileiros, para que nos somemos na tarefa da construção de um Partido Popular, Nacional e Democrático, o nosso PTB. Tarefa que não se improvisa, que não se impõe por decisão de minorias, mas que nasce do encontro do povo organizado com a iniciativa dos líderes identificados com a causa popular. Nós, Trabalhistas, assumimos a responsabilidade desta convocatória, porque acreditamos que só através de um amplo debate, com a participação de todos, poderemos encontrar nosso caminho para a construção no Brasil de uma sociedade socialista, fraterna e solidária, em Democracia e em Liberdade”.

Em 1982 o PDT, com apenas um ano de existência, sai das eleições municipais convocadas pelo governo militar (com base em pressões sociais, e após anos de desmantelamento do movimento social e dos partidos de esquerda brasileiros) como o terceiro maior partido brasileiro (ficando atrás somente dos partidos tradicionais: PDS, antiga ARENA, e PMDB, antigo MDB), e a primeira força de esquerda do país.

Nas eleições majoritárias (governos estaduais e renovação de 1/3 do Senado Federal) o PDT foi o único dos novos partidos a conseguir vitórias, ganhando no Rio de Janeiro, com Leonel Brizola para o governo estadual e Saturnino Braga para o Senado Federal.

Em 1984 o PDT de Brizola ao lado de outras lideranças partidárias como Tancredo
sobre-3Neves, Miguel Arraes, José Richa, Ulysses Guimarães, André Franco Montoro, Dante de Oliveira, Mário Covas, Gérson Camata, Orestes Quércia, Carlos Bandeirense Mirandópolis, Luiz Inácio Lula da Silva, Eduardo Suplicy, Roberto Freire, Luís Carlos Prestes, Fernando Henrique Cardoso, Vander Ramos, Marcos Freire, Fernando Lyra, Jarbas Vasconcelos e de intelectuais e artistas como Sócrates (futebolista), Christiane Torloni, Mário Lago, Gianfrancesco Guarnieri, Fafá de Belém, Chico Buarque, Martinho da Vila, Osmar Santos, Juca Kfouri entre outros, lideram a Campanha das Diretas Já! em favor da realização de eleições diretas para o cargo de Presidente da República.
A ditadura militar, entretanto, só chegaria ao fim em 1985 e as eleições diretas para Presidente da República só ocorreriam em 1989.

Durante as eleições indiretas de 1985 para a presidência o PDT apoiou o candidato do PMDB, Tancredo Neves, que faleceu em 21 de abril de 1985, antes de assumir seu posto (o vice-presidente José Sarney, dissidente do PDS/ARENA e integrante da Frente Liberal assume em seu lugar).

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