09 jan 2016 . 15:25
Uma amizade colorida e os 50 tons de cinza
Antes uma só amizade colorida do que 50 tons de cinza –para citarmos o best-seller da moda e o seu chamado sadomasoquismo leve ou pornô soft.
Corra, Lola, corra! Em tempos de café sem cafeína, cerveja sem álcool e feijoada light, até o sadomasô é limpinho e indolor, vê se pode!
Deixemos o mundo acinzentado para lá. O que interessa é a amizade colorida. Que também pode ser chamada, em um possível status de facebook, de “estou em um relacionamento fala sério”.
Ainda existe amizade colorida? Foi a indagação de um amigo recém separado na mesa de bar de ontem. Ô se existe, interferiu uma moça. O termo pode até andar um pouco em desuso, mas a prática…
Talvez até os anos 90 fosse mais claro o jogo. Você estava em uma amizade colorida mesmo. Hoje você pode chamar de amizade colorida apenas aquela história que não evolui para um namoro mais definido.
Quase o mesmo que “estou em um rolo aê” etc.
Estou certo?
Porque, em tempos de homens frouxos, não se pede mais em namoro. É só amor líquido escorrendo pelo ralo de uma eterna adolescência.
Em tempos de amor líquido, quase nada fica. Nem o amor daquela rima antiga.
A amizade colorida, no modo em que foi formatada nas últimas quatro décadas, sustenta a teoria de que a nossa relação com as mulheres nunca é totalmente amistosa. Há sempre um componente de desejo.
Amizade colorida seria o mesmo que o “pau-amigo”, como diziam as meninas no tempo em que o “02 Neurônio” ainda era um fanzine?
O termo é muito bonito: amizade colorida. Cabe muito bem em um verso psicodélico do Tatá Aeroplano.
Xico Sá é jornalista e escritor.
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