Em Teu Nome: valeu a pena?

06 fev 2015 . 14:25


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Em Teu Nome: valeu a pena?

Brasil, 2009

Paulo Nascimento

Com Leonardo Machado, Fernanda Moro, César Troncoso, Nelson Diniz, Silvia Buarque, Marcos Paulo

Ainda que filmes sobre o período de ditadura militar no Brasil – devido à demasiada exploração do tema – contenham muitos clichês sobre a atuação das pessoas que se rebelaram contra o sistema vigente, Em Teu Nome consegue romper com alguns modelos e apresentar novos ângulos.

Por Ricardo Flaitt, Alemão


A partir de uma história real, o diretor Paulo Nascimento narra a trajetória de Boni (Leonardo Machado), um jovem de classe média, estudante de engenharia, que disposto a lutar contra o sistema, resolve participar, da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

“A Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foi fundada em 1966 por membros dissidentes da POLOP e por militares remanescentes do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) com o objetivo de instaurar no Brasil um governo do tipo soviético. Tinha no seu leque de ações práticas de guerrilha urbana e de terrorismo para alcançar o objetivo maior que era a derrubada do governo dos militares. Seu modelo de política socialista seguia uma linha marxista-leninista.” (InfoEscola.com.br)

Na trama, cinco personagens sintetizam uma situação que aconteceu em diversos pontos do país, em que jovens, universitários, operários, dentre outros, organizaram-se para reestabelecer a liberdade, a democracia e, em alguns casos, propondo a luta armada para quebrar o “status quo” e instaurar no país um novo sistema político.

A primeira ação do grupo é realizar um assalto para levantar fundos para a estruturação da luta armada. Despreparados e desorganizados, assaltam, no entanto, deixam rastros, revelam seus rostos, o que ocasiona a prisão do grupo. Neste ponto, Paulo Nascimento quebra um clichê dos filmes do gênero, já que muitos apresentam uma visão romântica dos “guerrilheiros urbanos”, como se fossem super-heróis.

O protagonista do filme também é retratado com mais humanidade. É um jovem considerado burguês pelos outros integrantes do grupo, estuda engenharia, tem sua “namoradinha alienada” e constantemente se encontra num dilema sobre as pessoas, a luta armada e os rumos em que sua vida está tomando, diferente das outras películas do tema, em que todos parecem ter nascido para a revolução.

Depois do assalto brancaleonesco, Boni e o grupo são detidos, experimentam todo o repertório de tortura dos militares e posteriormente são encaminhados para um presídio em uma ilha, de onde são libertados, após serem trocados (junto com mais 65 companheiros), pelo embaixador da Suíça, que havia sido sequestrado.

Inicia-se, então, uma nova saga. Os 70 revolucionários trocados são obrigados a partir para fora do Brasil. Os amigos da VPR gaúcha rumam para o Chile, que está sob o governo de Salvador Alliende, presidente com ideais socialistas, amigo de Pablo Neruda e que os recebem. Ali, longe das torturas, Boni repensa seu “estado” revolucionário, deseja retomar sua vida. Cecília, namorada que ficou no Brasil, parte para o Chile, reencontra Boni, que repensa sua vida, constitui-se como família e, lá, têm seu primeiro filho.

Quando tudo parece se encerrar, um golpe de Estado, Alliende é deposto no dia 11 de setembro de 1973. Com isso, abrem-se as portas para os militares brasileiros/chilenos caçarem os revolucionários exilados. Assim, têm de partir, para a Argélia, com a ajuda de Miguel Arraes, país que há poucos anos havia se libertado do colonialismo francês.

O novo recomeço, novamente com outro novo choque cultural Boni e Cecília tentam se encontrar como família; mas também quanto a uma pátria física. Os ideais de luta não perecem, assim como o amor do casal, que enfrentou inúmeras situações para ficarem juntos e, ao mesmo tempo, lutarem pela democratização do Brasil.

O casal ainda ficou exilado na França, de onde iniciam o movimento pela anistia, que veio a acontecer em 1979, quando retornam às suas terras.

Outro ângulo da luta apresentado no filme Em Teu Nome, além da luta coletiva, o diretor Paulo Nascimento, mantém como núcleo da história o romance de Boni e Cecília, sem perder a força, nem o foco, do enredo principal que é mostrar o embate entre as forças militares versus as frentes de resistência pela democracia.

Em teu Nome apresenta estereótipos, mas também tem a capacidade de ampliar a visão e propor novos pensamentos sobre o período histórico no Brasil, sendo essencial para muitos jovens, que desconhecem o que e como foram os “Anos de Chumbo” no Brasil, na América Latina e as repercussões no mundo.


Ricardo Flaitt, Alemão, é jornalista, acessor do Sindicato Nacional dos Aposentados

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