31 out 2012 . 11:04
Drummond, como os modernistas, seguiu a libertação proposta por Mário e Oswald de Andrade com a instituição do verso livre. De maneira simples e direta ele é capaz de exprimir sentimentos profundos, como em Confidência do Itabirano, poema no qual, na frase “Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!” ele demonstra seu distanciamento em relação à sua terra, e toda a nostalgia que envolve esta constatação.
Confidência do Itabirano
Carlos Drummond de Andrade (do livro Sentimento do mundo, publicado em 1940)
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
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