23 jan 2017 . 10:07
Por Jorge Henrique Bastos
Das inscrições rupestres da pré-história às pichações subversivas que se alastraram pelos muros de Paris, em maio de 68, até as inserções grafiteiras que cobriram trens e paredes de Nova Iorque entre os anos 60 e 70, o grafitti se caracterizou sempre como uma expressão verdadeira do homem comum, um ato de rebelião e protesto, mas também a forma de se exprimir dos mais excluídos das sociedades contemporâneas. Assim como um grito de criatividade dos jovens que desejam deixar sua marca, sua assinatura e se exprimirem esteticamente.
A propagação dessa manifestação tornou-se tão forte que acabou aglutinando, inclusive, expressões musicais como o hip hop e o rap, entre outros estilos musicais urbanos, e se investiu de um genuíno movimento cultural cosmopolita das tribos urbanas que imperam em todas grandes e pequenas cidades do mundo.
São Paulo como a segunda maior cidade da América Latina, e uma das maiores capitais mundiais, não ficou infensa a esse processo, tornando-se um dos locais mais significativos da arte de rua, e produziu artistas extraordinários que se catapultaram das paredes cinzas paulistanas para se coroarem, como Os gêmeos que foram mundialmente convidados para grafitar uma das mais importantes galerias, a fachada da Tate Modern, em Londres; ou de Eduardo Kobra, que grafitou uma das mais longas paredes do mundo, situada no Rio de Janeiro, trabalho encomendado pelo Comitê das Olimpíadas e que agora embevece cariocas e turistas.
Esse processo demonstra o que já vinha acontecendo com artistas como Jean Michel Basquiat ou Keith Hering, que se notabilizaram como artistas cujo berço havia sido as paredes nova-iorquinas nos anos 80 e 90. Atualmente, o caso mais simbólico é do artífice do graffiti, Bansky, cujos trabalhos surpreendem sempre pela mensagem de protesto inserida nas suas obras.
É preciso explicar aqui algo que a maioria das pessoas desconhece a diferença entre “pichação” e “graffiti”. O primeiro é a inscrição, a mensagem que visa atingir maior número de pessoas, sua marca característica.
O segundo, ou graffiti artístico, inclui vários estilos como a caricatura, personagens, abstrações e figurações.
Como um flâneur baudelairiano, o dirigente sindical, João Carlos Gonçalves, Juruna, começou a palmilhar as ruas do bairro para onde se mudou em 2009 – Pinheiros –, e passou a registrar as dezenas de obras espalhadas entre ruas, becos, paredes e muros que fazem parte do seu percurso cotidiano. O resultado surpreendente está registrado no livro “Arte de Rua”.
Amante da fotografia, Juruna detém um olhar cirúrgico e atento. Utilizando-se de três máquinas distintas e até do seu Iphone, ele demonstra saber escolher as obras pela expressividade, tons, dinamismos e procedimentos estéticos de cada artista anônimo que colore a cidade com obras belíssimas.
Esquadrinhando vários locais, o fotógrafo selecionou as fotos e dividiu-as em vários segmentos, estabelecendo os temas: Muros; Abstratos; Surrealismo; Pessoas e Animais.
Esta divisão ajuda ao leitor, que é conduzido pelo olhar de Juruna por várias obras extremamente belas e que causam pasmo quando as vislumbramos.
Juruna documentou todos estes estilos pela Capital, realizando um mapeamento pessoal, distinguindo a obra destes artistas urbanos que parecem estar em vias de perder a possibilidade de divulgar seus trabalhos na atual gestão municipal, que já anunciou e propagandeou certa intolerância com essa expressão artística, e que em outros países é respeitada e admirada.
Dessa maneira, o livro de Juruna surge num momento delicado, e nos ajuda a olhar com outro sentido para aqueles desenhos, cores e mensagens citadinos, que só enriquecem e se tornam um alento no dia a dia de cada um.
Fonte: Agência Sindical
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