Projota canta: Rap do ônibus

28 mar 2025 . 00:01

Projota, cantor e compositor brasileiro

Projota, cantor e compositor brasileiro

A mobilidade é um dos maiores problemas que a cidade apresenta. Saturada, pesa sobre a vida das pessoas que precisam apresentar-se diariamente nos locais de trabalho. “Dá mais trabalho chegar no trabalho do que trabalhar” é a ideia expressa no Rap do Ônibus, interpretada por Projota, que resume todo o desgosto do trabalhador com o transporte público.

A letra evidencia a exaustão física e emocional dos trabalhadores, bem como o desrespeito à sua dignidade, ao comparar as pessoas a “sardinhas enlatadas” e “folhas secas sem vida”. Há uma crítica à desigualdade social e à forma como as elites lucram com o sofrimento da população: “Quanto mais gente, mais impostos, mais lucro pros líderes da aldeia”. A menção ao “Navio Negreiro” sugere que o trabalhador moderno ainda enfrenta condições semelhantes às da escravidão, agora sob uma nova forma.

É interessante notar que ele se agarra à fé religiosa como uma possível salvação para seu esgotamento, confirmando a forte presença da religiosidade entre o povo brasileiro.

Ao relatar os perrengues diários, o aperto e as condições que não condizem com o valor da passagem, o rap fala do abandono do povo, condenado a sobreviver apenas para o trabalho.

Rap do ônibus
(Compositores: Carlos Henrique Benigno e Jose Tiago Sabino Pereira/2011)
Intérprete: Projota

As pernas doem e o suor escorre
E veem no rosto pálido de um homem que não é ninguém
Vai trabalhar, guerreiro, vai trabalhar, bem!
Mais um dia comum na nossa vida comum, com fé
Senhor, nos leve pra onde quiser
Proteja nossos corpos e nos mantenha de pé
Que eu possa entrar e sair vivo de um metrô na Sé
Seria engraçado se não fosse desesperador
Aos olhos de quem me governa, é esse o meu valor
Sardinhas enlatadas são jogadas ao relento
Folhas secas sem vida vão levadas pelo vento
A raiva toma conta, muita treta, normal
Nasce agora um assassino serial
Prefeito que dá o aval, avisa já pra geral
“Economiza porque o buzo vai subir mais um real”
Meia dúzia na rua derruba buzo, incendeia
Alguns sem vê, sem nada, abusam e só falam da vida alheia
Mas a cidade tá cheia
Quanto mais gente, mais impostos, mais lucro pros líderes da aldeia

Me diz quem tem que acordar assim (é nóis!)
Me diz quem tem que acordar assim (é nóis!)
Me diz quem tem que acordar assim (é nóis!)
Me diz quem tem que acordar assim (é nóis!)

Ô, cobrador, deixa os menino passar
Vou sofrer uma hora e meia e ainda tenho que pagar
Libera ae, porque tá caro pra caralho
E eu não achei meu dinheiro na bosta, deu mó trabalho
Cuidado onde pisa, pois pode ser meu pé
Cuidado onde alisa, pode ser minha mulher
Veja quem manifesta, o exército de Zé
Cuidado com o que testa, pois pode ser minha fé
Meu povo quer ver melhorar
Porque dá mais trabalho chegar no trabalho do que trabalhar
Mais tarde, quando você ver o pivete roubar
É porque o pai dele tava no buzão em vez de tá lá pra educar
Meu povo tá cansado, já nem se queixa mais
Se vê acostumado e vive essa guerra em paz
Meu povo sente fome, tem que ganhar dinheiro
Pra isso precisa ser o que não quer o dia inteiro
Hoje eu vô pular catraca, na moral
Não vou pagar dois e pouco num serviço que não vale um real
Tem um pilantra comprando iate, enquanto a gente se bate
Pra pagar pra ele à vista a ceia de Natal
(Navio Negreiro hoje não difere cor)
Amontoa e leva pra lavoura qualquer trabalhador
As mãos cansadas penduradas na barra
De uma gente que chora, mas nunca perderá a sua garra
São Paulo é uma cadeia? Faço a rebelião
Queimar colchão pra ver se alguém melhora a situação
Ninguém se move, ninguém se machucará, então
Enquanto isso eu vou cantando no buzão, assim

Me diz quem tem que acordar assim (é nóis!)
Me diz quem tem que acordar assim (é nóis!)
Me diz quem tem que acordar assim (é nóis!)
Me diz quem tem que acordar assim (é nóis!)

Ô, cobrador, deixa os menino passar
Vou sofrer uma hora e meia e ainda tenho que pagar
Libera ae, porque tá caro pra caralho
E eu não achei meu dinheiro na bosta, deu mó trabalho

 

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