29 jun 2012 . 10:34
Raphael Martinelli foi líder ferroviário antes do golpe de 1964, amigo do presidente João Goulart, militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), ajudou a organizar o PUA (Pacto de Unidade e Ação) e o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) até o assalto ao poder feito pelos militares golpistas, a serviço da burguesia mais reacionária, seu nome constou da primeira lista de cassações dos golpistas, escapou de ser preso pela ditadura e ajudou a organizar a ALN (Ação Libertadora Nacional) junto com Marighella e Joaquim Câmara Ferreira. Como militante da ALN participou da luta contra a ditadura até ser capturado pelos inimigos da democracia. Foi preso político por longos anos, saiu da prisão, estudou e se formou advogado do Sindicato dos Ferroviários, sua categoria profissional.
Hoje, aos 85 anos de idade, várias décadas de militância política e muita experi ência de vida, ele é o Presidente do Fórum dos ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo e figura importante de toda a luta pela abertura dos arquivos da repressão militar e pela punição dos torturadores e seus mandantes e apoiadores.
Plena Editorial: O que é o Fórum dos ex-Presos e Perseguidos Políticos do estado de São Paulo?
Martinelli: É uma organização criada pelos ex-presos e perseguidos políticos para lutar pelos seus direitos de reparação política e monetária por causa de todoas as torturas e perseguições sofridas nas mãos da ditadura implantada em 1964. Além disso, lutamos pelo esclarecimentos de todas as mortes e desaparecimentos dos militantes capturados durante a luta contra a ditadura. Nossa preocupação maior é esclarecer e informar a juventude sobre o que foi nosso país nas mãos daqueles que se colocaram a serviço de potências estrangeiras.
Plena Editorial: O que você acha dos livros que retratam a vida e a militância de combatentes contra a ditadura?
Martinelli: Como dirigente do Fórum, só posso elogiar essas iniciativas, pois elas vão ao encontro da necessidade que a juventude tem de conhecer o que aconteceu no país e os reflexos da ação da ditadura sobre a sociedade brasileira atual. A direita quer esconder esse passado, pois foram cúmplices de muitos crimes cometidos pela ditadura. A direita brasileira se beneficiou com a ditadura, a retirada de direitos dos trabalhadores e de violação dos direitos humanos dos cidadãos pobres de nosso país.
Plena Editorial: Você conheceu o Virgílio Gomes da Silva?
Martinelli: Sim. Ele era o Comandante Jonas, nome com o qual o conheci na clandestinidade. Tanto eu como ele éramos milçitantes da ALN. Era um homem valoroso, um trabalhador dedicado e um pai de família exemplar. Deu sua vida pela causa revolucionária e não cedeu nada aos inimigos que o assassinaram nas câmaras de torturas. O lançamento desse livro (Virgílio Gomes da Silva – De retirante a guerrilheiro) sobre a vida de Virgílio é um bom meio da juventude conhecer a luta pela democracia e a vida de um operário consciente, politizado e dedicado a luta pela libertação do povo. Só espero que outros livros como esse sejam publicados.
Plena Editorial: Ou seja: precisamos conhecer nosso passado. É isso?
Martinelli: Claro. Temos que abrir os arquivos militares, que contam a ação dos organismos militares de repressão e que tem muitos segredos ainda não revelados. Não podemos permitir que isso tudo fique nas mãos de inimigos da democracia.
Plena Editorial: O que você acha desse debate sobre a punição aos torturadores dos tempos da ditadura?
Martinelli: Não pode ficar impune quem cometeu crimes de lesa-humanidade. Essa gente cometeu crimes inimagináveis e precisam pagar por seus crimes. Eles prenderam ilegalmente, torturaram, saquearam, estupraram e mataram centenas de militantes políticos. Vários agentes deles contam sem medo de punição que os militantes foram presos, torturados e esquartejados para não facilitar a localização de seus corpos. Isso não tem perdão. Eles cometeram atrocidades e até a Convenção de Genebra, que estabelece quais são os crimes de guerra, condena os atos desses torturadores assassinos.
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