28 maio 2019 . 19:19
A edição nº 17, página 3, do jornal “A Voz do Trabalhador”, publicado em 30 de agosto de 1909, pela Confederação Operária Brasileiro, estampava a seguinte notícia, que segue na redação conforme ortografia da época.
VICTIMA DA ESPLORAÇÃO
“No dia 14 corrente, quando a menina de 13 anos, Maria Teixeira, procedia a limpeza uma maquina em que trabalhava na ‘Fabrica de Tecidos Confiança Industrial’, ficou com uma mão presa na engrenagem.
Momentos depois era a pobre menina levada para casa de seus pais tendo uma das mãos um monte de farrapos de tecidos humanos, à mistura com os pequenos ossos da mão já triturados.
É mais uma victima do industrialismo ganancioso, que emprega nas suas bastilhas creanças e moças inexperientes a fazer serviços que só homens experientes deviam executar. E é mais um crime que se comete na fabrica de tecidos Confiança Industrial, de que tombou vitimada uma menina de 13 anos.
Pensem os companheiros e companheiras dessa criatura, pensem em todos aqueles que tem filhas ou irmãs ali trabalhando, e lembrem-se que como paga de tantos sacrifícios só têm ou os insultos dos mestres e contramestres ou o constante perigo de ficarem inutilizados por toda a vida, só porque são obrigados a trabalhar demasiado em troca de um insignificante salario.
Depois disto desejamos saber se, mesmo indenizada, essa pobre rapariga – o que duvidamos – praticou ou não a directoria da fabrica um crime, mandando uma menina fazer limpeza a uma maquina em movimento? Praticou, pratica e praticará, mas isto é só enquanto os companheiros não se decidirem a faze-la respeitar os seus direitos.
E oxalá seja breve…”
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Passados 110 anos da fatalidade descrita acima, consequências da utilização de mão de obra de crianças e falta de segurança no local de trabalho, o Brasil, em pleno século XXI, ainda registra casos de trabalho infantil.
Segundo o Observatório do Terceiro Setor, “1,8 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos trabalhavam em 2016, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Deste total, 998 mil estavam em condição de trabalho infantil, isto é, tinham menos de 14 anos ou tinham mais de 14 anos, mas estavam trabalhando de forma ilegal. Outro dado alarmante aponta que, entre 2007 e 2017, 40.849 meninos e meninas sofreram acidentes de trabalho, sendo 24.654 de forma grave, de acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.”
Ricardo Flaitt, assessor de imprensa do Sindicato Nacional dos Aposentados
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