Os 60 anos do Dieese

30 abr 2015 . 12:38

os60-1O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos – Dieese – foi criado em 1955, pelo movimento sindical, para suprir a necessidade de uma instituição confiável de dados econômicos. 

Por Carolina Maria Ruy
 
Na década de 1950, devido ao intenso desenvolvimento industrial e urbano que o Brasil vivia, o agravamento das condições de vida e a suspeita de fraudes com relação aos índices econômicos prejudicavam os trabalhadores. Em consequência, grandes greves contra a alta inflação e contra a carestia marcaram o período. A principal delas, a Greve dos 300 mil, em 1953, protestou contra o alto custo de vida em São Paulo, paralisando por 29 dias trabalhadores de diversas categorias. A greve teve como desdobramentos a formação do Comitê Intersindical de Greve e a criação do Pacto dos Quatro Sindicatos: têxteis, metalúrgicos, madeireiros e vidreiros (todos de São Paulo).
 
Deste movimento surgiu, em 1954, o Pacto de Unidade Intersindical (PUI), considerado embrião do Dieese. Luiz Tenório de Lima, o Tenorinho (falecido em 2010), um dos fundadores do Dieese e ex-diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação e Indústria de Laticínios de São Paulo, explica esse processo:
As lutas sindicais encontravam a barreira de como comprovar a percentagem que os trabalhadores reinvidicavam. Os únicos órgãos em que a justiça se baseava eram uma comissão do Ministério do Trabalho e a Secretaria de Abastecimento de São Paulo. Os dados dessas duas fontes nunca conferiam com aquilo que a gente achava que era custo de vida. E nós só levávamos vantagem quando fazíamos aquelas greves enfrentando polícia, como fizemos em 1953. Então surgiu a ideia de criar o nosso próprio organismo de levantamento de custo de vida (Depoimento ao Museu da Pessoa para o projeto Memória Dieese, 2006).
Com este propósito o Dieese foi criado em 22 de dezembro de 1955, por um grupo de 20 dirigentes sindicais paulistas, tendo como primeiro presidente Salvador Romano Losacco, do Sindicato dos Bancários. O primeiro diretor técnico do Departamento foi o sociólogo José Albertino Rodrigues. Ele permaneceu no cargo entre 1957 a 1962, dando início a uma longa trajetória baseada no tripé: pesquisa, assessoria e educação.

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Um dos primeiros trabalhos do Dieese, ainda na década de 1950, foi uma pesquisa de padrão de vida das famílias paulistanas, que serviria como base para o Índice de Custo de Vida (ICV). A pesquisa era feita através do acompanhamento de famílias, que concordavam em participar, por um grupo de técnicos. 

Após o golpe militar de 1964 o Dieese sofreu com a desarticulação do movimento sindical e foi impedido de realizar suas funções devido à intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, onde estava sediado, retomando suas atividades em 1965.
 
Mas mesmo com a repressão o Departamento conseguiu apoiar os trabalhadores, fornecendo cálculos e estudos sobre a políticaos60-3 salarial, cada vez mais arrochada. Segundo Tenorinho, o Dieese chegou a realizar, clandestinamente, estudos para o MIA, Movimento Intersindical Anti-arrocho. Além disso, foram os técnicos do Dieese, coordenados à época pelo economista Walter Barelli, que denunciaram, em 1977, que o índice oficial da inflação de 1973 havia sido manipulado, resultando em um rebaixamento dos salários. Esta denúncia abriu uma grande discussão na sociedade deflagrando uma série de manifestações operárias pela reposição salarial e deu grande visibilidade à entidade.
 
Em 1981, para renovar a base calculo do ICV foi criada a Pesquisa de Padrão de Vida e Emprego, PPVE, que se estendeu até 1983. A PPVE está na origem da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), lançada no final de 1984, em parceria com a Fundação Seade. A metodologia inovadora da PED aprofundava a identificação de componentes do desemprego que o IBGE camuflava. Com isso a PED chamou a os60-4atenção da sociedade brasileira para da miséria do desempregado, em um contexto de elevados índices de desemprego.
Nas décadas de 1980 e 1990 o Dieese atravessou e superou vários momentos de crises financeiras, e às vezes de ordem sindical e até política. Entretanto conseguiu se firmar como um pilar do sindicalismo, produzindo dados confiáveis, apropriados também pela sociedade. Sua história se entrelaça com a história do movimento sindical brasileiro e com o surgimento das centrais sindicais contemporâneas, que dirigem e financiam o Departamento. 
Em maio de 2010 esta história foi coroada com a concretização de um de seus mais ambiciosos projetos: a fundação Escola Dieese de Ciências de ensino superior, com disciplinas de especialização para dirigentes sindicais. Segundo o diretor técnico Clemente Ganz Lucio o objetivo é que “no futuro, jornalistas, economistas, advogados e juristas se especializem na questão do trabalho”. 
 
Desde sua fundação, em 1955, o Dieese viveu um processo de expansão, consolidação e modernização. Mas sua história é marcada, principalmente, pela coerência com seus princípios fundamentais: buscar a unidade na ação sindical e servir à Classe Trabalhadora como um poderoso instrumento na clássica luta entre capital e trabalho.

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Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical
 

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