15 mar 2014 . 14:05
Iniciado em 1967 o Tropicalismo rompeu com a dicotomia, refletida também na cultura, imposta pelo contexto político da guerra fria.
Assim, se de um lado havia a Jovem Guarda, com influencia norte americana, e do outro o estilo politizado, com forte carga ideológica, expresso, sobretudo no CPC da UNE, o Tropicalismo quebrou com a estrutura dual, apresentando uma mistura de estilos regionais e folclóricos com o rock.
Seus expoentes resgataram ideais do Movimento Antropofágico, da década de 1920, fundado pelo poeta Oswald de Andrade, justificando assim a incorporação do rock à cultura brasileira. Da mistura antropofágica surgiu uma manifestação artística nova, moderna e pujante, com o espírito brasileiro da miscigenação étnica e cultural.
Em Alegria, Alegria Caetano questiona as tensões do esquema formado entre a repressão do regime e a reação dos militantes. Além disso, o músico lista ícones de sua época, relativizando seus significados e aludindo aos meios de comunicação de massa: em caras de presidente/ em grandes beijos de amor/ em dentes, pernas, bandeira/ e bomba e Brigitte Bardot.
E ainda, o Sol, a que se refere Caetano, é, provavelmente, o jornal o Sol, idealizado pelo jornalista Reynaldo Jardim.
Desta forma, quando ele diz: O sol nas bancas de revista/Me enche de alegria e preguiça/Quem lê tanta notícia parece que se refere à luz do sol iluminando alguma banca de revista. O que lhe daria alegria, pelo calor e pela claridade, e preguiça, para curtir a alegria do sol. Mas, na verdade, ele quer dizer que o fato de um jornal de esquerda estar sendo vendido em uma banca de revista, o enche de alegria. E que, por outro lado, ele não se dispõe a ser um militante, nos moldes rígidos que os principais movimentos de combate à ditadura pregavam. Daí a ruptura tropicalista com o esquematismo e com a bipolarização da época.
Alegria, Alegria
(Composição: Caetano Veloso/1967)
Intérprete: Caetano Veloso
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento
Eu vou
Eu tomo uma Coca-Cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil
Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Por que não, por que não
Por que não, por que não
Por que não, por que não
Por que não, por que não
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