12 ago 2021 . 13:00
O desemprego é um velho conhecido do brasileiro. Habitué do noticiário, é a estrela de épocas de crise, como a que atravessamos neste agosto de 2021.
A dança do desempregado pareceu para Gabriel Pensador fazer sentido em 1997. E fez. Os anos 90 ficaram marcados como a década do desemprego. Mas, se aquela década apresentou tal crise, e hoje, 24 anos depois? Dados atuais apontam que: “o desemprego atinge 14,6% e a subutilização de 29,3% da mão de obra e o índice de miséria é recorde”. Ele vem, desta vez, acompanhado de outra figura famosa por aqui: a inflação. Inflação que foi controlada naqueles anos de 1990, mas que voltou com tudo de ruim que vivemos durante o governo Bolsonaro.
Se Pensador já em 1997 denunciava a situação social, com sua música ao mesmo tempo crítica e bem humorada, hoje pode-se dizer que ele foi profético. Ele satiriza um estilo de música que foi moda naquela época, altamente sexualizado e alienante, como “Na boquinha da garrafa”, álbum da banda Companhia do Pagode, lançado em 1995. Estilo que desconfigurou músicas regionais típicas tornando-as mais comerciais, que além de depreciar a mulher, servia como distração para o um povo que sofria com o desemprego.
A dança do desempregado é crítica e, infelizmente, muito atual.
Dança do Desempregado
(Composição: Gabriel o Pensador/1997)
Intérprete: Gabriel, o Pensador
Essa é a dança do desempregado
Quem ainda não dançou tá na hora de aprender
A nova dança do desempregado
Amanhã o dançarino pode ser você
E vai levando um pé na bunda vai
Vai por olho da rua e não volta nunca mais
E vai saindo vai saindo sai
Com uma mão na frente e a outra atrás
E bota a mão no bolsinho (Não tem nada)
E bota a mão na carteira (Não tem nada)
E bota a mão no outro bolso (Não tem nada)
E vai abrindo a geladeira (Não tem nada)
Vai porcurar mais um emprego (Não tem nada)
E olha nos classificados (Não tem nada)
E vai batendo o desespero (Não tem nada)
E vai ficar desempregado
Essa é a dança do desempregado
Quem ainda não dançou tá na hora de aprender
A nova dança do desempregado
Amanhã o dançarino pode ser você
E vai descendo vai descendo vai
E vai descendo até o Paragüai
E vai voltando vai voltando vai
“Muamba de primeira olhaí quem vai?”
E vai vendendo vai vendendo vai
Sobrevivendo feito camelô
E vai correndo vai correndo vai
O rapa tá chegando olhaí sujô!…
E vai rodando a bolsinha (Vai, vai!)
E vai tirando a calcinha (Vai, vai!)
E vai virando a bundinha (Vai, vai!)
E vai ganhando uma graninha
E vai vendendo o corpinho (Vai, vai!)
E vai ganhando o leitinho (Vai, vai!)
É o leitinho das crianças (Vai, vai!)
E vai entrando nessa dança
Essa é a dança do desempregado
Quem ainda não dançou tá na hora de aprender
A nova dança do desempregado
Amanhã o dançarino pode ser você
E bota a mão no bolsinho (Não tem nada)
E bota a mão na carteira (Não tem nada)
E não tem nada pra comer (Não tem nada)
E não tem nada a perder
E bota a mão no trinta e oito e vai devagarinho
E bota o ferro na cintura e vai no sapatinho
E vai roubar só uma vez pra comprar feijão
E vai roubando e vai roubando e vai virar ladrão
E bota a mão na cabeça!! (É a polícia)
E joga a arma no chão E bota as mãos nas algemas
E vai parar no camburão
E vai contando a sua história lá pro delegado
“E cala a boca vagabundo malandro safado”
E vai entrando e olhando o sol nascer quadrado
E vai dançando nessa dança do desempregado
Essa é a dança do desempregado
Quem ainda não dançou tá na hora de aprender
A nova dança do desempregado
Amanhã o dançarino pode ser você
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