Movimento sindical destaca 60 obras de resistência à ditadura

29 mar 2024 . 11:12

Sob coordenação do Centro de Memória Sindical, projeto será lançado em abril e conta com o apoio de CTB, Força Sindical e UGT

Por André Cintra

Em setembro de 2022, o Centro de Memória Sindical (CMS) comemorou o bicentenário da Independência do Brasil com o lançamento do projeto Brasil em 200 Obras (1822-1922). Na ocasião, cinco jornalistas se uniram para selecionar essas obras e fazer uma breve apresentação delas, valorizando as mais diversas manifestações da cultura nacional.

Agora, nos 60 anos do Golpe de 1964, o movimento sindical põe em destaque obras que ajudaram a denunciar e combater a mais longa e criminosa ditadura brasileira (1964-1985). Sob coordenação do CMS, o projeto Arte e Cultura – 60 Obras de Resistência à Ditadura Militar será lançado em abril e conta com o apoio de três centrais sindicais: CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Força Sindical e UGT (União Geral dos Trabalhadores)

Desta vez, seis jornalistas – sendo quatro remanescentes da iniciativa de 2022 – ficaram encarregados da seleção e da apresentação das 60 obras. O trabalho será divulgado no site do Centro de Memória Sindical (memoriasindical.com.br) e das entidades parceiras. Haverá também uma versão do projeto em forma de pôster.

“A arte e a cultura foram instrumentos fundamentais de combate à ditadura militar ao driblar a censura de forma pacífica e educativa, e buscar promover a elevação da consciência da população”, afirma Milton Cavalo, presidente do CMS. A seleção inclui diversas artes, como filmes, músicas, livros, peças, instalações, fotos, artes gráficas e charges.

“O conjunto de obras produzidas no contexto da resistência diz muito sobre aqueles 21 anos e, muitas vezes, sobre a nossa atual realidade”, agrega Milton. “Por isso, esse resgate de 60 obras realizado por jornalistas através do Centro de Memória Sindical é mais do que uma homenagem – é um convite a refletir sobre a nossa história, sobre o papel da cultura na sociedade.”

Embora a lista cubra bem todo o ciclo ditatorial, há momentos que sobressaem pela quantidade de obras. É o caso de 1966 e 1967, anos pré-AI-5 (Ato Institucional Número 5) e, portanto, de censura mais branda.

São desse biênio clássicos como o filme Terra em Transe (marco do Cinema Novo); a peça O Rei da Vela (encenada no Teatro Oficina); a música Pra Não Dizer que Não Falei das Flores (talvez a canção mais associada à resistência à ditadura); e a bandeira-poema Seja Marginal, Seja Herói (que recebeu um sem-número de imitações).

Na apresentação do projeto, o CMS lembra a ofensiva da ditadura contra as artes. “Sob ordens dos generais-presidentes de plantão, agentes do regime censuraram e proibiram obras, perseguiram e torturaram artistas, destruíram espaços e equipamentos culturais, desmantelaram grupos, coletivos e movimentos artísticos, entre outras atrocidades. Há também casos – não poucos – de condenações de artistas ao cárcere e ao exílio”.

A despeito disso, “o cerco à cultura não impediu a realização de obras de arte audaciosas e memoráveis – muitas das quais confrontavam o próprio regime, de forma aberta ou sutil”. Daí a ideia de celebrar essas obras por meio de “60 produções nacionais emblemáticas”.

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