03 dez 2013 . 18:01
O surgimento de um novo poeta é sempre motivo de comemoração: a poesia descreve a vida, simplifica-a, reduzindo-a a versos que absorvem todos os conflitos do ser humano; que dizer, então, quando surge um novo grande poeta?
Por Daniela Mantarra Callipo
Neste princípio de século, quantas expectativas! O homem do século XXI vai superar seus antepassados, ou seja, eu, você, nossos pais? Vai conseguir criar máquinas mais potentes, destruir com maior alcance, ser mais rápido, mais ágil, mais esperto, mais?
O jovem poeta responde a essas questões ao contrapor riachos a foguetes, monjolos a mísseis, máquinas de costura a bombas atômicas. Isso quer dizer que o novo século comportará ainda o ser humano mais simples, a Elzinha que cose destinos, o menino que se encanta com as luas minguantes produzidas pelo pai, o marceneiro que vislumbra o belo num pedaço tosco de madeira.
Ricardo Flaitt nos lembra que ainda somos seres humanos e o passar do tempo é só o passar do tempo. Ainda cultivamos os mesmos sonhos, as mesmas esperanças, ainda buscamos a tranquilidade e a compreensão da existência.
“O Domesticador de Silêncios” apropria-se da linguagem: livre, recorta, cola, transforma as palavras e cria um novo som, um novo sentido, o novo; hábil, resume as pequenas ações do nosso pobre cotidiano e as enobrece, dignificando-as; moderno, esboça quadros borrados, dos quais se depreendem apenas as sensações que provocam; romântico, faz reviver nossos poetas que cantaram o amor, a pureza, o eterno.
Flaitt, à maneira de Victor Hugo, faz conviver o belo e o grotesco, o sério e o jocoso, o nobre e o incrivelmente simples. Tudo serve de tema para sua poesia, tudo é matéria a ser destruída e reconstruída conforme lhe ditam as musas. Paralelepípedos, ventiladores, pipas, tornam-se objeto de estudo e exaltação; o rio Canoas torna-se mais belo que o Tejo, porque o Canoas é o rio que corre pela aldeia de Flaitt, enquanto o Tejo… bem, o Tejo não corre pela sua aldeia.
Buscar defini-lo seria leviano; muito jovem, Ricardo Flaitt tem um longo caminho a percorrer e é preciso deixá-lo fazer experimentações, divertir-se, libertar-se. A nós, leitores, cabe celebrar o nascer de um novo grande poeta e respirar aliviados: apesar dos foguetes, mísseis, e bombas atômicas, ainda há berrantes, torresmo, maritacas, sanhaço-de-mamoeiro, um pai sentado na varanda, milho, amor, café, semente de quem ama…
Mas, como dizia o bruxo do Cosme Velho, um prefácio, para ser bom, não pode ser extenso: o momento é de deixar-se levar pelo vento, e seguir viagem até Mococa, para conhecer o jovem poeta, para compreender melhor o mundo, para reencontrar as lembranças que se rasgaram com o tempo.
Daniela Mantarro Callipo é Doutora em Língua e Literatura Francesa pela USP e docente na Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Assis-SP.
Prefacio do livro “O Domesticador de Silêncios”, de Ricardo Flaitt
Serviço
Lançamento “O Domesticador de Silêncios”, de Ricardo Flaitt
Data: 7 de dezembro sábado
Horário: das 14h às 17h
Local: Espaço Revista Cult Rua Inácio Pereira da Rocha 400, Vila Madalena, São Paulo (SP)
Mais informações
Circus Produções Culturais
E-mail: guto@circusproducoes.com.br
tel: 55 11 2528 4732 | 55 11 3337 7035 | 55 11 99 172 4010
PLAYLIST SPOTIFY MEMÓRIA SINDICAL