19 ago 2012 . 15:59
A música debocha da pompa da elite paulistana e traz elementos de uma “nova” modernidade: o chamado “centro novo”, a moda, a revista de fofocas, a imprensa a indústria cultural. Fala de maneira alegórica e bem humorada, sobre uma cidade dura aos olhos de iraraenses de Tom Zé (tem corpo de aço, alma de robô). Uma cidade competitiva e que vive em função do dinheiro. A batina nordestina chega a lembra uma briga de cangaceiros, mas o traço tropicalista traz à tona o singular processo brasileiro de urbanização.
A Briga do Edifício Itália e do Hilton Hotel
(Composição: Tom Zé/1972)
Intérprete: Tom Zé
O Edifício Itália
Era o rei da Avenida Ipiranga:
Alto, majestoso e belo,
Ninguém chegava perto
Da sua grandeza.
Mas apareceu agora
O prédio do Hilton Hotel
Gracioso, moderno e charmoso
Roubando as atenções pra sua beleza.
O Edifício Itália ficou enciumado
E declarou a reportagem de amiga:
Que o Hilton, pra ficar todo branquinho
Toma chá de pó-de-arroz.
Só anda na moda, se veste direitinho
E se ele subir de branco pela Consolação
Até no cemitério vai fazer assombração
O Hilton logo logo respondeu em cima:
A mania de grandeza não te dá vantagem
Veja só, posso até ser requintado
Mas não dou o que falar
Contigo é diferente,
Porque na vizinhança
Apesar da tua pose de rapina
Já andam te chamando
Zé-Boboca da esquina
E o Hilton sorridente
Disse que o Edifício Itália
Tem um jeito de Sansão descabelado
E ainda mais, só pensa em dinheiro
Não sabe o que é amor
Tem corpo de aço,
Alma de robô,
Porque coração ele não tem pra mostrar
Pois o que bate no seu peito
É máquina de somar.
O Edifício Itália sapateou de raiva
Rogou praga e
Até insinuou que o Hilton
Tinha nascido redondo
Pra chamar a atenção
Abusava das curvas
Pra fazer sensação
E até parecia uma menina louca
Ou a torre de Pisa
Vestida de noiva
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