01 dez 2023 . 20:03
Importante lembrar, primeiramente, que a música foi criada durante a ditadura militar. Este fato nos leva a compreensão de que se trata de uma ironia e de uma forma de driblar a censura para fazer uma crítica social.
A crítica aqui se relaciona à exploração do povo trabalhador, que é comparado ao gado vivendo uma vida de sacrifícios.
Zé Ramalho resgata e adapta o tema do clássico de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, de 1932. A obra de Huxley faz uma contundente denúncia do controle governamental e da padronização comportamental imposta à população. Os controladores, autoritários, exaltam uma imagem de bem estar, mas escondem uma realidade de injustiça e desigualdade.
O Admirável Gado Novo, desta forma, critica a falácia que o governo militar chamou de “Milagre Econômico”, um período em que a repressão e os acidentes de trabalho atingiram recordes assustadores.
Mais do que isso, nordestino que é, o autor aborda especialmente a massa de imigrantes que atravessavam o Brasil rumo ao centro-sul, fugindo da seca, da desigualdade e em busca de trabalho.
Fala ainda do povo que vem do meio rural, contribuindo para a conscientização deste povo.
Oh, boi!
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Eh, oh, oh, vida de gado
Povo marcado, eh!
Povo feliz!
Eh, oh, oh, vida de gado
Povo marcado, eh!
Povo feliz!
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
É o Brasil!
Eh, oh, oh, vida de gado
Povo marcado, eh!
Povo feliz!
Eh, oh, oh, vida de gado
Povo marcado, eh!
Povo feliz!
Oh, boi
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam, nem se pode flutuar
Não voam, nem se pode flutuar
Não voam, nem se pode flutuar
Eh, oh, oh, vida de gado
Povo marcado, eh!
Povo feliz!
Eh, oh, oh, vida de gado
Povo marcado, eh!
Povo feliz!
Feliz, feliz, feliz
Fonte: Centro de Memória Sindical
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