1968 – Contagem e Osasco: o ressurgimento do sindicalismo

30 abr 2012 . 11:18



Em 1964 as organizações operárias, que vinham se consolidando desde 1945, estavam no auge das suas atividades, influenciando em plataformas políticas amplas e não apenas sobre reivindicações econômicas. Após o golpe militar houve um refluxo dessas lutas. Amordaçar o movimento sindical foi condição fundamental para a implementação de uma política econômica assentada no arrocho salarial e na redução dos direitos sociais. Como conseqüência, entre 1964 e 1968 os trabalhadores tiveram seus salários reduzidos em mais de 30%. Neste contexto as greves de Contagem e de Osasco, de 1968, se tornaram marcos importantes da história das lutas da classe operária brasileira, pois foram as primeiras deste período de repressão.
 
A greve de Contagem – Em março de 1968 a presença de nada menos que dois mil trabalhadores durante a criação do Comitê Intersindical Anti-arrocho em Minas Gerais deixou clara a disposição de luta da classe operária mineira. Poucos dias depois eclodiu em Contagem, um dos principais centros industriais do Estado, o primeiro grande movimento de resistência dos operários à política econômica do regime.
 
A greve começou no dia 16 de abril, quando pararam 1200 trabalhadores da siderurgia Belgo-Mineira. A reivindicação era de aumento imediato de 25% nos salários, mas os patrões limitavam-se a oferecer apenas 10% que, ainda por cima, seria descontado na data-base.
 
A fim de tentar retomar o controle o ministro do trabalho, o coronel Jarbas Passarinho, tentou de várias formas conter o movimento. Ele apelou para que os líderes sindicais explicitassem aos trabalhadores o perigo daquelas medidas e visitou a sede do Sindicato dos Metalúrgicos em Minas Gerais chegando a comparecer em uma assembléia geral enfrentando os grevistas.
 
Foram tentativas fracassadas de intimidação e contenção do movimento, que só se expandia somando quase 20 mil operários grevistas. A persistência dos trabalhadores provocou uma violenta reação do governo. A polícia militar ocupou as ruas de Contagem reprimindo qualquer tentativa de assembléias e aglomerações operárias. Os patrões aproveitaram para convocar os trabalhadores nas suas próprias casas, sob a ameaça de demissão sumária e por justa causa. Mesmo nesta tensão os operários resistiram ainda alguns dias. Tal demonstração de força e coragem incentivou organizações que se opunham à ditadura, alimentando o sonho de liberdade e justiça social.
 
O MIA e o 1º de Maio – Ainda em outubro de 1967, no Estado de São Paulo mais de 40 dos principais sindicatos criaram o Movimento Intersindical Antiarrocho (MIA). O Movimento, criado para pressionar o governo a acabar com o arrocho salarial, programou a realização de cinco concentrações, até o dia 1o de Maio de 68. Neste cenário José Ibrahim, então presidente do  Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, conclamou os operários a realizarem uma manifestação autêntica no 1o de Maio. Após diversos conflitos o MIA foi dissolvido, tendo sido criada uma comissão para se ocupar da organização do 1o de Maio.
 
O ato do Dia do Trabalho realizado na Praça da Sé, com o consentimento e a presença do governador Abreu Sodré, provocou a revolta dos operários e militantes de base. Brigas e agitações marcaram o ato e este episódio repercutiu intensamente em todo o país. Tal repercussão se deu especialmente no pólo industrial de Osasco. Lá as perdas salariais já haviam provocado descontentamento entre os trabalhadores e o nível de organização já atinava para realização de uma greve.
 
A greve de Osasco – No dia 16 de julho de 1968, às 9h da manhã, a sirene extra da Cobrasma, fábrica metalúrgica de Osasco com 3 mil operários, anunciou a ocupação da fábrica. Foi o início de uma greve que se daria em condições excepcionais e representaria a mola propulsora do renascimento do movimento sindical brasileiro. A greve ocorreu com base em houve um planejamento detalhado e uma preparação dos trabalhadores, que aderiram em massa ao movimento.
 
A intensa brutalidade da repressão foi chocante e evidenciou a coragem dos trabalhadores grevistas. Desde a declaração, considerada subversiva,  feita por Ibrahim em convocação ao 1o de Maio operário, o Sindicato de Osasco vivia sob ameaça de intervenção. Além disso, o governo federal já estava atento aos movimentos dos sindicalistas devido à experiência de Contagem. Desta forma, logo no início da greve, sem prévias negociações ou tentativas de contenção, o Ministério do Trabalho decretou a intervenção no Sindicato de Osasco acionando cerco policial, invasão das fábricas e prisões dos grevistas.
 
Sem lideranças e sitiados, os trabalhadores viram-se sem outra alternativa senão voltarem ao trabalho após o terceiro dia de repressão. As estratégias e a firmeza da ação sindical foram um legado de Osasco. Os princípios de organização dos trabalhadores pela base, de democratização dos sindicatos e de liberdade e autonomia sindical marcaram este processo. Dez anos depois, em 1978, estas lições fizeram a diferença na nova organização e ação sindical que emergia em todo o país.
 
Carolina Maria Ruy
Jornalista e pesquisadora

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