1968 tempo do movimento operário no mundo

30 abr 2012 . 11:17


Maio de 1968 é data emblemática de grandes mobilizações sociais, da ação direta na luta de massas. Entretanto ainda há parte importante desta história a ser reconhecida. A imagem do movimento estudantil parisiense, difundida pela mídia como principal agente revolucionário daquela época, é parcial e encobre todo o processo de lutas protagonizadas pelos operários.
 
Segundo o historiador Eric Hobsbawn, na década de 1960 houve diferentes tipos de movimentos de massas. Eles se dividiram entre a luta pela igualdade encabeçada pelas chamadas minorias, negros, mulheres e jovens que, organizados em grupos, reivindicavam interesses especificos, e o movimento operário, que, organizado principalmente pelo Partido Comunista da França, encampava a luta pela justiça sócio-economica. Apenas em alguns momentos os movimentos se encontraram.
 
Quarenta anos depois, as principais lembranças de 1968, difundidas e reforçadas pela grande imprensa, foram o rompimento com a rigidez dos costumes, que prevalecia até então e a exaltasão à informalidade, a liberdade sexual e à liberdade de expressão. Tais reivindicações, que surgem com uma áurea pura e romântica, quando colocadas como objetivos isolados e despolitizados trazem embutida uma nova visão de mundo, marcada por um individualismo que seria exacerbado dos anos de 1960 em diante.
 
A luta árida encampada pelos operários, por sua vez, parece que a mídia tenta esquecer. Ela se deu num contexto de ascendente crise econômica internacional. A queda nas taxas de crescimento entre 1960 e 1979 em países como EUA, França, Alemanha Ocidental, Inglaterra e Japão da década de 1960 levou à mudanças no sistema capitalista trazendo o fantasma da recessão e do desempredo. Esta situação entrou em choque com os anseios da geração do baby boom do imediato pós guerra, que cresceu embalada pela promessa de uma sociedade materialmente abastada e uma vida segura. Era o fim dos "anos dourados" do pós-guerra, acumulando problemas e contradições que refletiam a acentuada queda na produtividade e na lucratividade nos países industrializados.
 
Além da crise econômica, a luta social e sindical que eclodiu em 1968 já vinha se desenrolando desde o final da II guerra (1945). Nos EUA, a extensão da resistência dos trabalhadores pode ser medida pela forças das greves. Segundo o historiador brasileiro Leandro Karnal, os movimentos de base, de mineiros e de caminhoneiros dos Estados Unidos realizaram 1.412 manifestações só em 1963. Este clima de combate se extendeu por toda a década. Em 1970, por exemplo, 200 mil trabalhadores dos correios de pararam seus trabalhos, reivindicando contra os patrões, o governo, e contra os sindicalistas pelegos.
 
Na Europa dos anos de 1960 o movimento grevista também crescia por todos os lados. Na França, houve greves, principalmente de metalúrgicos, desde 1965. E o auge foi a grande greve geral de maio-junho de 1968.
 
Outro cenário da luta operária foi a Itália. Em 1968, o norte industrial italiano parou em conseqüência das várias greves, barricadas e conflitos espalhadas pelo país. Um deles ocorreu em Maghera, um pólo industrial a meio caminho entre Pádua e Veneza. Ali, a greve por salários iguais para todos de junho de 1968, terminou com a multidão de 50 mil estudantes e operários marchando vitoriosamente para a histórica cidade. Estes acontecimentos de Maghera revelam aquela que foi a caraterística própria do maio italiano: a união dos operários e dos estudantes.
 
Em resumo, existiram sim, importantes conquistas do conjunto dos movimentos de 1968 e estas resultaram das várias vertentes de movimentos que se formou. Entretanto, afirmar que elas apenas se concentram nas palavras de ordem juvenis, e que estas definiram as bases para a libertação das amarras do amplo conteito de autoritarismo, sem reconhecer o outro lado, o da luta operária que, ao contrário do voluntarismo, baseou-se na organização de sindicatos e partidos, seria incorrer em uma visão tendenciosa e despolitizada da história.
 
Carolina Maria Ruy
Jornalista e pesquisadora

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