1978 e a avalanche sindical

30 abr 2012 . 11:19


Desde meados dos anos 70, com as mortes do estudante Alexandre Vannucchi Leme, em 1973, do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, e do metalúrgico Manoel Fiel Filho, em 1976, crescia cada vez mais a indignação contra a ditadura militar. Os movimentos pela redemocratização vinham, sobretudo, de setores da classe média, estudantes, intelectuais e artistas. O movimento operário, que havia sido dizimado após a violenta repressão aos protestos contra o arrocho em Contagem (MG) e Osasco (SP), em 1968, passou anos sem promover grandes manifestações no Brasil.
 
Em agosto de 1977, porém, o operariado sofreu um golpe duro demais para ficar calado. Nesta data o Dieese revelou a falsificação dos índices do custo de vida relativos a 1973 apresentados pelo ex-ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto.
 
Com a confirmação de que os salários não tinham acompanhado a inflação real, o governo militar ainda tentou manipular e conter o movimento operário. Mas os trabalhadores metalúrgicos logo se organizaram em torno da luta para recuperar os 34,1% perdidos do salário.
 
Além dos Metalúrgicos, outras categorias também foram atingidas. Mais de 10 mil jornalistas do Estado de São Paulo foram lesados em 12%, e cerca de 100 mil bancários viram seus salários reajustados 17,8% a menos do que o índice de inflação. Catorze sindicatos paulistas, e de muitos outros Estados iniciaram imediatamente a campanha pela reposição daquelas perdas. Reuniões e assembléias se espalharam pelo País.
 
A mobilização pela reposição desencadeou uma avalanche de greves, e retomou a ação sindical no Brasil, pressionando o governo para a abertura política. Este processo começou a estourar com força no dia 12 de maio de 1978 na Saab-Scania, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Nesta fábrica, mais de 3 mil metalúrgicos cruzaram os braços e pararam as máquinas. O movimento grevista rapidamente se alastrou por outras fábricas, regiões e categorias. As primeiras empresas que pararam em São Paulo foram Toshiba, Caterpillar e Duratex (DECA). Mas os acontecimentos na Scania repercutiram também na Brown Boveri, em Osasco, a mesma empresa dos operários combativos de 1968.
 
Em 16 de maio de 1978 o governo reconheceu, em comunicado oficial, a existência do movimento grevista, que considerava ilegal.
 
Mesmo assim o empresariado foi obrigado a negociar os reajustes em cada empresa. Com isso ficou demonstrada a capacidade de organizações dos operários nos locais de trabalho. Tal capacidade foi reforçada com o surgimento das comissões de fábrica e de delegados sindicais.
 
Depois dos movimentos grevistas, a ditadura militar nunca mais conseguiu retomar o fôlego. A massiva ação sindical de 1978 redefiniu os rumos da história exigindo democracia no Brasil.
 
Carolina Maria Ruy é Jornalista e pesquisadora

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