A manipulação de 1973

16 abr 2019 . 11:11


A história não é meramente ilustrativa ou protocolar. Se bem usada ela pode ser um instrumento de prática. Segundo Paul Thompson (A Voz do Passado, Ed Paz e Terra), por meio da história as pessoas comuns procuram compreender as revoluções e mudanças por que passam suas próprias vidas.

Destrinchando a composição do movimento sindical de hoje encontraremos raízes lá no fim dos anos 70, quando a prática de subordinação da economia ao capital estrangeiro, que correu solta durante toda a ditadura militar, começou a mostrar seus sintomas nocivos, emplacando índices altíssimos da inflação.

Um dos episódios mais emblemáticos dos conflitos entre os trabalhadores e a economia instituída pelos militares foi a descoberta, em julho de 1977, da falsificação dos índices oficiais da inflação de 1973. Episódio em que o Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatística Sócio Econômicas) teve papel fundamental.

Havia uma suspeita quanto à veracidade dos dados oficiais de 1973, que confirmavam que o então ministro da fazenda, Delfim Netto havia atingido sua meta de conter a inflação naquele ano ao nível de 12%.

Desconfiados dos índices oficiais, o Banco Mundial chega a um cálculo que mais se aproximava da realidade e utiliza os dados do Dieese. Tendo à frente o diretor técnico Walter Barelli, a assessoria do Dieese teve êxito em descobrir, nos porões do IBGE, as fichas com as falsificações dos números. Foi feita uma perícia e a juíza deu vitória para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, que contestava os índices oficiais do governo.

Com a conclusão de que os salários não tinham acompanhado a inflação real, todos os sindicatos começaram a pedir trabalhos para o Dieese. E o Governo Federal, ainda no regime militar, tentou manipular o movimento sindical buscando um diálogo. Mas este fato ficou marcado e quando estouraram as greves em 78, essa era uma das perdas pelas quais os operários lutaram.

Logo que a falsificação dos índices oficiais de 73 foi revelada, um dos principais sindicalistas desta época, Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, abriu um processo na Justiça Federal reivindicando as perdas, o que dividiu o movimento já que uma parte duvidava do processo jurídico oficial e apostava em recuperar os 34,1% do salário perdido ao longo do tempo. O processo do Joaquinzão foi para a frente.

A divulgação do novo índice foi um dos elementos que contribuiu para desencadear as greves, que teve início no ABC, comandadas pelo ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, em seguida em São Paulo, se espalhando depois para todo o País.

Tal fato marca o período de retomada e crescimento do movimento sindical, com as primeiras greves em 78 e 79 e o novo movimento grevista. A expansão do Dieese também se deu em cima disso, com a criação de vários escritórios pelo Brasil. Deu unidade ao movimento sindical, através das lutas comuns.

Carolina Ruy é jornalista e pesquisadora

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