Ainda não usamos Black Tie

30 abr 2012 . 11:14


Mais do que uma encenação, Eles NÃo Usam Black-Tie – peça e filme – são registros históricos da vida operária e da ocorrência da greve dos metalúrgicos de São Paulo em 1979.

Há 50 anos (fevereiro de 1958) estreava, no Teatro Arena em São Paulo, a peça Eles não usam black tie, escrita e dirigida por Gianfrancesco Guarnieri. Foi uma das primeiras, e talvez a mais marcante peça brasileira que levou para os palcos o tema sobre a vida dos operários. Mais de vinte anos mais tarde, em 1981, o diretor Leon Hírzman adaptou a peça para o cinema.
 
A história, pautada pela luta de classes, pela exploração da mão de obra e pela velha contradição entre o capital e o trabalho – mostrando vidas em que o trabalho é pesado e o dinheiro é escasso – gira em torno da relação entre o operário e líder sindical Otávio e seu filho, o jovem operário Tião. Em 1958, a peça de teatro Eles não usam black tie teve sucesso surpreendente iniciando a fase nacionalista do Teatro Arena e salvando-o da decadência. Além disso lançou o autor Gianfrancesco Guarnieri, que além de dirigir, também atuou na peça no papel de Tião (o filho operário) e no filme no papel de Otávio (o pai, operário e líder sindical).
 
O filme, de 1981, tem como pano de fundo a greve dos metalúrgicos de São Paulo de 1979, no período final da ditadura militar no Brasil (1964/1985). Hírzman enfrentou o desafio de saltar do espaço doméstico do texto original, para um espaço social mais amplo, mostrando a repressão e o movimento sindical paulistano despontando como força do operariado.
 
"Black Tie" expõe a situação de vida do operariado: os costumes, as relações familiares, a violência etc. No tocante às relações políticas, embora o filme parta do ponto de vista dos sindicalistas, ele coloca também, através do personagem de Tião, os argumentos daqueles que, assumindo uma postura conservadora, concordam com as relações de trabalho nas empresas e indústrias, de modo a evitar um discurso dogmático ou maniqueísta. O filme mostra também divisões e a heterogeneidade dentro da própria organização sindical. Esta divisão é caracterizada por dois personagens – Otávio e Santini. O primeiro deles busca uma organização e unificação do movimento, enquanto Santini – o "Italiano" que possui a característica de agitador, fazendo uma alusão aos movimentos ocorridos no século XX na Europa – defende a realização da greve naquele momento, com o uso da violência.
 
A situação sindical hoje já é muito diversa. Muitos propósitos desta luta já se converteram em conquistas para os trabalhadores. Entretanto refletir sobre uma obra de arte, que exprime o contexto de sua época, nos permite compreender as raízes destas lutas, a importância da unidade de ação e a consolidação do movimento sindical.
 
Carolina Ruy é jornalista e pesquisadora

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