As origens e o papel do Mercosul em seus 20 anos

30 abr 2012 . 11:51


Fonte: Carolina Maria Ruy*

A criação do Mercado Comum do Sul (Mercosul – união aduaneira entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), em 1991, demonstrou que, depois de quinhentos anos de subdesenvolvimento, a América do Sul atingira certo grau de maturidade política. Entretanto, a situação econômica de seus países naquele ano ainda era de grave dependência.
 
A dificuldade de se articular e o subdesenvolvimento sul-americanos no início da década de 1990 remontam ao modelo de colonização luso-espanhola, baseado na exploração de recursos naturais, e ao processo de independência das colônias, já no século 19, marcado por conflitos e grandes contrastes econômicos e sociais.
 
Desta forma a América do Sul entra no século 20 padecendo de crônico atraso econômico e político. Mesmo que tenha havido tentativas de firmar parcerias entre as nações sul-americanas a partir da 2ª Guerra Mundial (1939 – 1945), elas não prosperaram devido, sobretudo, à subordinação às grandes potências mundiais. No pós-guerra e início da Guerra Fria, em 1945, a ascensão do neoliberalismo tornou as alianças internacionais um requisito parao bom desempenho na economia global. Entretanto, a América Latina ainda patinava em suas dificuldades. Com radicalização política promovida pela ordem bipolar – capitalismo versus socialismo – golpes militares, apoiados pelos EUA, disseminaram-se pela América do Sul, e a integração tornou-se uma distante utopia. Para nos fixar aos países que mais tarde formariam o Mercosul, temos que ressaltar que viveram repressoras ditaduras: o Brasil entre 1964 e 1985, a Argentina entre 1966 e 1973, o Paraguai 1954 e 1989 e o Uruguai 1973 e 1985.
 
Foi um contexto de aumento da dependência econômica e política. E que, por outro lado, fomentou a criação de grupos – trabalhadores, estudantes civis – para resistir e enfrentar o regime.
 
Com a resistência e o esgotamento do radicalismo político-ideológico, a partir de meados da década de 1980, ventos sopraram para uma nova configuração mundial.
 
Em 1985, já no período de redemocratização, Brasil e Argentina construíam, enfim, sua parceria. Com a necessidade de reorientar suas nações, em dezembro daquele ano, o presidente brasileiro José Sarney e o presidente argentino, Raúl Alfonsín, assinaram a Declaração de Iguaçu, em Foz do Iguaçu, Paraná.
 
Mais do que objetivos econômicos, a Declaração visava promover a integração política do Cone Sul. Alfonsín e Sarney ambicionavam criar laços de confiança entre os países, buscando estabilidade para a estruturação de suas democracias. A parceria evoluiu para o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, em 1988, e, posteriormente, para o Tratado de Assunção, assinado em 26 de março de 1991, pelos presidentes do Brasil e da Argentina, Fernando Collor e Carlos Menem. Mais tarde Paraguai e Uruguai também aderiram ao Tratado. O objetivo era estabelecer um mercado comum entre os países envolvidos. Desta forma o Tratado ficou conhecido como Mercado Comun do Sul. Estava criado o Mercosul.
 
Aquele foi um período marcado pela explosão da globalização, que levou a grandes mudanças no mundo do trabalho: reestruturação produtiva, precarização, desemprego estrutural, rupturas sindicais, ofensiva das multinacionais etc. Foi também um período de consolidação da “sociedade civil” organizada e participativa em nível global, tendo na criação de mecanismos como o Fórum Social Mundial (2000), suas maiores expressões.
 
Desde sua formação o Mercosul foi objeto de interesse do mundo sindical. Pois era um eficiente meio de debater internacionalmente questões relacionadas aos direitos dos trabalhadores no âmbito da livre circulação da mão-de-obra. As Centrais Sindicais dos países-membro fortaleceram sua atuação no Mercosul por meio da Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS), enfatizando as questões dos trabalhadores no Bloco.
 
Hoje, pode-se dizer que, mesmo que suas relações econômicas tenham sido abaladas por sucessivas crises financeiras internacionais, o peso geopolítico do Mercosul fortaleceu a América do Sul no cenário global. Vinte anos após a assinatura do Tratado de Assunção, verificamos que o balanço é positivo e que há motivo para a Presidente Dilma se orgulhar e se emocionar.
 
*Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Cultura e Memória Sindical

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