A carta das mulheres grevistas de 1917

11 jul 2017 . 17:12

A carta das mulheres grevistas de 1917

Soldados! Não deveis perseguir os nossos irmãos de miséria. Vós também sois da grande massa popular e, se hoje vestes a farda, voltareis a ser amanhã os camponeses que cultivam a terra ouos operários explorados das fábricas e oficinas.

A fome reina nos nossos lares e os nossos filhos nos pedem pão. Os perniciosos patrões contam, para sufocar nossos reclamações, com as armas de vos armaram, oh soldados!

Essas armas eles vol-as deram para garantir seu direito de esfomear um povo.

Mas, soldados, não faças o jogo dos grandes industriais que não tem pátria.

Lembrai-vos que o soldado do Brasil sempre se opôs à tirania e ao assassinato das liberdades.

O soldado brasileiro recusou-se no Rio a atirar sobre o povo quando protestava contra o imposto do vintém e até o dia 13 de maio de 1888 recusou-se a ir contra os escravos que se rebelevam, fugindo ao cativeiro!

Que belo exemplo imitar!

Não vos presteis, soldado, à servir de instrumento de opressão dos Matarazzo, Crespi, Gambu, Hoffmann, etc, os capitalistas que levam a fome ao lar dos pobres e gastam milhões mal adquiridos e que esbanjam com as “cocottes”.

Soldados!

Cumpre o vosso dever de homens! Os grevistas são vossos irmãos na miséria e no sofrimento. Os grevistas morrem de fome ao passo que os patrões morrem de indigestão!

Soldados! Recusa-vos ao papel de carrascos!

São Paulo, junho de 1917.

Um grupo de mulheres grevistas

Fonte: Coletivo Democracia Corinthiana

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