Guerrilha do Araguaia

04 nov 2013 . 11:37

guerrilha-1Apesar de dizimada pelas Forças Armadas do general-ditador Emílio Garrastazu Médici, a resistência e a perícia dos jovens guerrilheiros do Araguaia testou os limites dos militares. Trata-se de um episódio histórico, ainda obscuro, muito caro tanto para o governo quanto para os comunistas.

Por Carolina Maria Ruy

Na década de 1960 a região amazônica brasileira ao longo do rio Araguaia, onde hoje é o Bico do Papagaio, era isolada do resto do País, habitada por um povo humilde, migrantes, agricultores ou garimpeiros. A mata também servia para esconder opositores políticos, e foi palco de uma das mais sujas demonstrações de poder da ditadura militar.

Em 1967, os primeiros militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), muitos deles treinados militarmente na China, começaram a chegar naquela região. Entre eles estavam Maurício Grabois, o médico João Carlos Haas Sobrinho e o negro, engenheiro e campeão de boxe, Osvaldo Orlando da Costa, o “Osvaldão”.

O objetivo daquele grupo era se infiltrar nos entornos do Rio Araguaia, interagir com o povo, fomentar um levante popular, derrubar a ditadura iniciada em 1964 e estabelecer a revolução socialista. Animados pelas Revoluções Chinesa e Cubana, eles eram movidos pelo ideal de fazer uma revolução a partir do campo.

Estima-se que cerca de oitenta guerrilheiros participaram do movimento, que ficou conhecido na história como Guerrilha do Araguaia. Destes, menos de vinte sobreviveram. Com idade média inferior a 30 anos, eles estocavam alimentos e munição em pontos esparsos da mata. E, para se acostumar à vida na selva, aprenderam a fazer fogo e a caminhar em mata fechada.

A Guerra Fria, em seu auge, fomentava no mundo um acirramento político opondo os defensores do capitalismo norte-americano aos militantes do socialismo soviético. No Brasil a ditadura militar, patrocinada pelos Estados Unidos, que perseguiu qualquer um que se opusesse ao governo, teve na Guerrilha do Araguaia, declaradamente comunista, um de seus principais combatentes.

A descoberta da Guerrilha pelo governo do general Médici se deu em 1971. A partir daí foram quatro operações: a Operação Presença, a Operação Papagaio, a Operação Sucuri e a derradeira Operação Marajoara, executadas em três grandes campanhas para exterminar a Guerrilha, atropelando os Tratados da Convenção deGenebra, que define normas internacionais de direitos humanos em tempos de guerra.

Embora os guerrilheiros estivessem em menor número e menos armados, e, por outro lado, o Exército tenha feito a maior mobilização de tropas desde a campanha das Forças Expedicionárias Brasileiras durante a Segunda Guerra, as duas primeiras Operações deram errado. Isso porque, embora as táticas de combates aos guerrilheiros já fossem conhecidas no Exército brasileiro, segundo o jornalista Hugo Stuart (Lei da Selva, Geração Editorial) nunca houve a necessidade de executar aquele conhecimento.

Com isso as Forças Armadas tiveram de criar um gigantesco sistema de segurança e inteligência militar para combater a Guerrilha.

Sabe-se que, a partir de 1973, houve onze meses de calmaria, quando os militares, tendo que mudar de estratégia devido ao fracasso anterior, se prepararam para a cartada final.

Depois disso quase não há registros sobre o que ocorreu. Considera-se que a Guerrilha estava oficialmente extinta em dezembro de 1973.

Segundo Stuart, poucos fatos na história brasileira foram tão cobertos de sigilo quanto a execução da Operação Marajoara, articulada pelo major Sebastião Curió. A maioria dos guerrilheiros foi morta em combate na selva ou executada sumariamente após a prisão. Para Stuart a Guerrilha do Araguaia foi uma das maiores insurreições armadas da luta revolucionária brasileira. Devido a censura, detalhes sobre a Guerrilha foram abafados, e sempre se afirmou que seus registros foram destruídos. Mais de cinquenta militantes do PCdoB ainda são considerados desaparecidos políticos.

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Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Cultura e Memória Sindical

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