Ibrahin

06 jun 2013 . 12:28

ibrahin-1José Ibrahin – Osasco, 3 de setembro de 1947 – São Paulo, 2 de maio de 2013 – sindicalista, político, coerente e revolucionário como poucos.

Carolina Maria Ruy

José Ibrahin viveu ativamente uma época de muita efervescência política. Ele começou a trabalhar na Cobrasma (Companhia Brasileira de Materiais Ferroviários) em Osasco, em 1961, com 14 anos, que era a idade que podia trabalhar.

Sua sólida formação política baseou-se na influência de professores “de esquerda” de um bom curso colegial, no Ginásio Estadual de Presidente Altino (GEPA), e na proximidade com os sindicalistas que frequentavam o boteco de seu pai na época em que fundaram, em 1963, o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco.

ibrahin-2Ibrahin circulava entre os grupos políticos de esquerda de Osasco, como o Partido Comunista, o antigo PTB e correntes da Igreja Católica Progressista. Quando ocorreu o golpe militar, em 1964, ele já era sócio do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, embora realizasse ainda um trabalho de “formiguinha” segundo o próprio.

O Sindicato, que surgira como uma instituição com forte perfil político e combativo, fora uma das primeiras instituições a sofrer intervenção e
ibrahin-3 prisão das lideranças. Foi aí que Ibrahin percebeu que precisava, com o seu pessoal, o chamado “Grupo de Esquerda de Osasco”, reagir. E, com o Sindicato “vigiado”, a reação teria que partir do interior das fábricas.

Em 1967 diversas comissões de fábrica já estavam organizadas e atuantes em Osasco. A da Cobrasma, da qual Ibrahin era o presidente, era a maior delas. Mas havia também comissões fortes nas fábricas Braseixos e Lonaflex.

O conflito daquele “Grupo de Esquerda” era contra a ditadura e sua intervenção arbitrária no Sindicato. E não propriamente contra o então presidente do Sindicato Henos Amorina. Embora enfatizasse o conservadorismo daquela gestão, submissa às leis dos militares, Ibrahin, sempre manteve respeito por Amorina e fazia questão de sublinhar sua hombridade em gestos como a retirada de sua candidatura para presidência do Sindicato, nas eleições de 1967, na qual disputou contra a chapa verde, encabeçada por Ibrahin, composta com o pessoal da Frente Nacional do Trabalho, para não haver um segundo turno custoso e desgastante para todos. Isso ocorreu porque, naquela ocasião, a chapa verde não ganhara no primeiro escrutínio, por causa de uma diferença de apenas 60 votos.

No ano em que seu grupo retomara a direção do Sindicato, organizações contra a ditadura começavam a despontar no cenário nacional e isso viabilizou a criação do Movimento Intersindical Anti-Arrocho (MIA). O MIA articulou os maiores sindicatos a fim de realizar ações de protesto que culminariam com o ato do 1º de Maio de 1968, na Praça da Sé, em São Paulo. A presença do governador Abreu Sodré naquele que deveria ser um ato contra o governo, entretanto, gerou um grande conflito e o ato terminou em pancadaria.

Com isso os olhos da ditadura se voltaram contra Ibrahin. E ele, que naquela altura já percebera que seria cassado de qualquer jeito, insistiu para que sua diretoria e sua base transformassem em realidade uma ideia que ele cultivara desde a época em que presidia a comissão de fábrica da Cobrasma: fazer a greve.

ibrahin-4A greve de Contagem já tinha acontecido. Arrocho salarial, desemprego e perseguições políticas corriam soltoas. O confronto seria mesmo inevitável.

Aprovada a decisão de fazer a greve, com data marcada para o dia 16 de junho, Osasco contou com o apoio de diversos outros sindicatos: os Metalúrgicos de São Paulo, da Baixada Santista, de Minas Gerais, Metalúrgicos e Estivadores do Rio de Janeiro. Todo mundo apoiou.

Logo no início da paralisação, que deveria ocorrer paulatinamente, o governo contatou o Sindicato e a negociação parecia fluir. Mas, quando anoiteceu a polícia cercou o Sindicato e invadiu as empresas. Houve confronto, gente ferida dos dois lados e mais nenhum diálogo. A greve resistiu por mais de uma semana. Entretanto Ibrahin, cassado e perseguido, passara para a clandestinidade. Ele não podia voltar para a casa, que havia sido invadida pela polícia. Teve que ir para São Paulo, onde os companheiros da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) o instalaram em um “aparelho”.

Mas, mesmo na clandestinidade, ele voltou diversas vezes ao Sindicato de Osasco para garantir que a luta continuava. Até ser preso pelo DOI CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) em 1969. Em setembro daquele ano Ibrahin, preso em São Paulo, teve seu nome na lista dos quinze presos políticos a serem libertados em troca da libertação do embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado por membros da Dissidência Comunista da Guanabara. Com isso ele viveu em liberdade, porém exilado, por dez
ibrahin-5 anos, retornando ao Brasil apenas com a Anistia de 1979.

De volta ao Brasil Ibrahin participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, em 1980 e da Central Única dos Trabalhadores, em 1983. Em 1991 Ibrahin foi um dos principais articuladores da criação da Força Sindical, central que ele já vislumbrava como uma instituição que viria para renovar o sindicalismo brasileiro. Ibrahin foi o primeiro Secretário de Relações Internacionais da Central. Nos últimos anos trabalhou na União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Ele faleceu na madrugada do dia 1º para o dia 2 de maio de 2013 aos 66 anos. Sindicalista, político, coerente e revolucionário como poucos. Deixará saudades.
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Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical

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