O 1º de maio e a luta pela redução da jornada

30 abr 2012 . 11:54

Fonte: Carolina Maria Ruy*

o1demaioEm 1º de maio de 2011 comemoramos o 125º dia internacional do trabalhador. No Brasil este foi um dia especial, brindado com uma atividade unitária, como há muito tempo não se via. Força Sindical, CTB, UGT, CGTB e NCST defenderam as bandeiras pelo fim do fator previdenciário, pela regulamentação da terceirização, pela reforma agrária, pela valorização do salário mínimo, pelo trabalho decente, pela valorização do servidor público e a histórica bandeira pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.

Esta última, em especial é uma luta que está na raiz na afirmação do 1º de maio como dia do trabalhador.

A data remonta a um processo de indignação e lutas que se inicia com o advento da Revolução Industrial na Inglaterra, no século XVIII. Tal processo sacrificou o trabalhador braçal, acostumado à vida rural, ditada pelas leis da natureza.

A MISÉRIA LEVA À ORGANIZAÇÃO

A artificialidade proporcionada pela estrutura industrial, que não diferenciava a noite e o dia, significou mais horas de produção. E este aumento da jornada de trabalho e maior exigência nos resultados (neste período passa a haver produção em massa, no primeiro momento de tecidos e produtos básicos) acentuou a situação dura e miserável do trabalhador. No pouco tempo em que não estavam servindo à produção capitalista, homens, mulheres e crianças subsistiam em condições horríveis e com salários medíocres.

A partir desta miséria, o operariado buscou se organizar e a reagir às injustiças sociais. Com o tempo, por volta de 1820, começaram a aparecer as primeiras associações sindicais, as Trade Unions, na Inglaterra. Tais associações, entre outras importantes conquistas, conseguiram que, a partir de 1º de maio de 1848, a jornada de trabalho fosse regulamentada em 10 horas diárias.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Naquele mesmo ano os célebres teóricos Karl Marx e Friedrich Engels lançaram o Manifesto Comunista, marcando um importante período de organização e  resistência. A contundência de suas palavras de ordem nos dá a dimensão do sentimento de injustiça que o experimentava naquele contexto. Com uma linguagem simples e acessível, o Manifesto, buscou conscientizar o operariado de seu papel histórico. Nesta linha reivindicatória, foi realizado em Londres, em
28 de setembro de 1864, o encontro inaugurado pelo próprio Karl Marx, que terminou com a fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), conhecida posteriormente como a Primeira Internacional.

Do outro lado do Atlântico a relação “patrão X empregado” também fervia. Chicago (EUA), que já em meados do século XIX era uma cidade industrial, centralizava os conflitos entre os “Defensores da Ordem”, na repressão do movimento operário a serviço dos patrões, e os Cavaleiros do Trabalho (Knight of Labor), criado em 1869, que a partir de 1881, contou com apoio da American Federation of Labor (AFL – que a partir da fusão com a CIO se transformou na atual AFL-CIO).

JORNADA DE 8 HORAS DIÁRIAS

A principal causa que movia os trabalhadores americanos era, também, a jornada de trabalho de 8 horas diárias. Para isso, em 1884 a AFL promoveu um congresso em Chicago, no qual traçou um plano estratégico para pressionar governo e patrões.

Àquela altura o 1º de maio já figurava no imaginário do trabalhador como uma data emblemática. Por isso este foi o dia, do ano de 1886, estipulado para o  cumprimento da meta. Caso não fosse atingida, a Federação propunha uma greve geral nacional. Encampado pela AFL e pelos Cavaleiros do Trabalho, o plano gerou grandes mobilizações e até boas negociações. Em 1º de maio de 1886 o movimento explodiu. Mesmo sem a adesão da maior parte dos trabalhadores, seu simbolismo foi imenso.

A greve permaneceu alguns dias, debaixo de muita violência por parte da polícia, levando a mortes de trabalhadores e dos seus principais líderes: Spies, Parsons, Engel e Fisher (condenados e executados em 11 de novembro de 1886), além da destruição de lares e sedes de sindicatos. O dia ficou marcado na historia e na memória de cada trabalhador. O 1º de maio nunca mais seria um dia qualquer. Em 1891, na Segunda Internacional, em Bruxelas, o 1º de maio foi estabelecido, enfim, como o dia internacional dos trabalhadores.

*Carolina Maria Ruy
é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Cultura e Memória Sindical.

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