Petrobras 55 anos. O ouro negro do Brasil

30 abr 2012 . 11:23


Uma empresa forte é essencial para alavancar a posição de um país no atual mundo capitalista. No Brasil, a Petrobras cumpre este papel. O petróleo é um bem de alto valor estratégico para a economia e para o desenvolvimento das nações. E, por envolver a movimentação de um grande volume de capital, muito além da função de fornecer energia fóssil, o debate sobre a Petrobras envolve também projetos de cunho cultural e social. O nome "Petrobras" está na boca tanto de trabalhadores e especialistas da área de energia, quanto de museólogos, cineastas, editores etc, passando por políticos e economistas. Tantos atributos fazem com que a petrolífera seja alvo de interesses, discussões e jogos políticos.
 
Exemplo disso foi o destaque, nos assuntos nacionais, dado à descoberta de petróleo, na camada de pré-sal da bacia de Santos. A quantidade descoberta foi tão grande que poderia mudar a história de nosso País. A riqueza mexeu também com interesses internacionais. Os Estados Unidos, por exemplo, que não possuem grandes reservas de petróleo e precisa deste combustível para fazer funcionar sua "locomotiva", cresceu o olho sobre o pré-sal, reativando, numa afronta à soberania nacional, a 4ª Frota Naval no Atlântico Sul (ativada na década de 1940, durante a II Grande Guerra, a fim de conter o avanço dos navios alemães sobre o Atlântico em águas americanas). A descoberta do pré-sal retomou um dilema histórico: deliberar sobre a forma regulatória de exploração e produção de óleo e gás, de modo que favoreça a sociedade brasileira.
 
Os argumentos apresentados ilustram o papel estratégico da Petrobras e justificam a revisão de seus 55 anos de história, decorrentes de uma apaixonada campanha pela sua criação.
 
LIBERAIS E NACIONALISTAS
Nos idos da década de 1940, o debate sobre os rumos do desenvolvimento brasileiro estava no centro das discussões e o movimento pela nacionalização do petróleo sacudiu o País. Entre 1947 e 1953 era clara a distinção entre os que achavam que o petróleo deveria ser explorado exclusivamente por uma empresa estatal e os que defendiam que a prospecção, refino e distribuição deveriam ser feitas por empresas privadas, estrangeiras ou brasileiras.
 
Ao fim da 2a Guerra Mundial (1945) a ideo-logia do liberalismo, que pregava o Estado mínimo, disseminou-se pelo mundo. No Brasil os mais adeptos desta corrente, com forte representação na grande imprensa e nas organizações patronais, defendiam a abertura total do País, inclusive das reservas de petróleo, ao capital estrangeiro. Por outro lado, os nacionalistas, propugnavam pela criação de uma petrolífera estatal, com monopólio brasileiro, a fim de evitar o risco de aquele produto estratégico ser oligopolizado por corporações internacionais como Standard Oil, Shell, Texaco, Mobil Oil, Esso etc.
 
Neste contexto, a Constituição Brasileira de 1946, embora fosse a mais progressista até então, dispôs de forma ambígua sobre a apropriação do petróleo. Ela admitia a participação de capitais privados estrangeiros na exploração mineral e do petróleo, desde que estes capitais fossem integrados à empresas constituídas no Brasil.
 
Os vários planos sobre o gerenciamento do petróleo passaram pelo governo Dutra que, em 1947, criou o Estatuto do Petróleo. O Estatuto apontou que era impossível a completa nacionalização, por falta de verbas e de técnicos especializados. Esta notícia desagradou desde os nacionalistas, que defendiam o monopólio estatal integral, até os grandes trustes, interessados na exploração do petróleo brasileiro à maneira do venezuelano.
 
A PETROBRAS É NOSSA

Ainda em 1947, das conferências de caráter nacionalista, realizadas no Clube Militar, surgiu uma forte reação à não nacionalização total do petróleo. O estopim foi a Campanha do Petróleo que defendia o monopólio estatal em todas as fases da exploração. Famosa por seu slogan "O petróleo é nosso", esta campanha passou a ser articulada em 1948, pelo recém-criado Centro de Estudos e Defesa do Petróleo. O Partido Comunista Brasileiro, na ilegalidade, ao lado dos estudantes da UNE, liderou uma série de manifestações, a favor do monopólio estatal, enquanto a grande imprensa (O Estado de São Paulo, Diário de Notícias, O Globo etc) defendia interesses privatistas. A Campanha do Petróleo também foi abraçada por pequenos grupos de militares nacionalistas e por muitos jornalistas.
 
Ainda em 1948, a equipe do governo Dutra, sob pressão, abriu mão do Estatuto do Petróleo. Este impasse se desenrolou até 1951, quando Getúlio Vargas, de volta à presidência da República, enviou ao Congresso um projeto propondo a criação da "Petróleo Brasileiro S.A." (Petrobras). Seu projeto previa que esta fosse uma empresa de economia mista com controle majoritário da União.
 
Nas ruas, a campanha "O petróleo é nosso" continuava a pressionar o governo pela estatização. Vargas optou finalmente pelo monopólio estatal, autorizando a abertura das negociações no Congresso. Depois de uma batalha parlamentar de 23 meses, o Senado terminou por aprovar a criação da Petrobras, sancionada por Vargas – lei 2.004 – em 03 de outubro de 1953. Este foi o resultado da vitória dos nacionalistas e do triunfo da campanha "O petróleo é nosso".
 
Em mensagem ao povo brasileiro, Getúlio destacou a importância da medida: "Constituída com capital, técnica e trabalho exclusivamente brasileiros, a Petrobras (…) constitui novo marco da nossa independência econômica".
 
Carolina Maria Ruy
Jornalista e pesquisadora

Comentários



ÚLTIMAS DE

Artigos e Entrevistas

Fotos históricas

Documentos Históricos

  As fotos estão em ordem cronológica Remo Forli e Conrado Del Papa, no lançamento da pedra fundamental da sub-sede de Osasco do Sindicato dos Metalúrgicos...

VER MATÉRIA

Visão geral do acervo

Arquivo

Centro de Memória Sindical – Arranjo do Acervo

VER MATÉRIA

Arquivo – Sindicatos

Arquivo

Catálogo de coleções de sindicatos, acondicionadas em caixas contendo documentos em papel de variadas tipologias. Documentos de datas esparsas entre as décadas de 1930 e...

VER MATÉRIA

Jornais

Arquivoc

Catálogo de coleções de jornais. Jornais de datas esparsas entre as décadas de 1920 e 2010. Acondicionamento em pastas.

VER MATÉRIA

Música e Trabalho

PLAYLIST SPOTIFY MEMÓRIA SINDICAL

Show Buttons
Hide Buttons