Jornada de trabalho: uma bandeira histórica

20 mar 2020 . 11:12

SP – PROTESTO/CUT/GUARULHOS – GERAL – A Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Força Sindical e outras centrais sindicais brasileiras realizam greve e manifestações nesta quinta-feira (11), em Guarulhos (SP), e em todo o país, com paralisação nos transportes públicos e bloqueio de rodovias. Eles reivindicam redução da jornada de trabalho para 40h semanais, sem redução de salários, 10% do PIB para a educação, 10% do orçamento da união para a saúde, transporte público e de qualidade, entre outros. 12/07/2013 – Foto: BETO MARTINS/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Ao conhecermos a trajetória do trabalhador desde meados do século XVIII, quando os instrumentos de produção artesanal passaram a ser substituídos por máquinas, até hoje, vemos que a intensa jornada de trabalho está na raiz do sistema capitalista. Com a Revolução Industrial, que inaugurou o modo de produção capitalista, o trabalhador perdeu o controle sobre a produção e sobre o tempo de trabalho. Até o fim do século XIX, como não havia regulamentação, os patrões podiam dispor da vida dos operários para a intensificação da produção e aumento do lucro, gastando sua mão-de-obra durante todo o tempo que julgavam necessário.

Estudos registram que entre os séculos XVIII e XIX os trabalhadores passavam de 12 a 16 horas trabalhando. A gradual redução da jornada foi conquistada com lutas e sacrifício. Um exemplo é a greve geral de 1886, em Chicago [EUA], que deu origem ao Dia do Trabalho. Em 1o de maio daquele ano, 180 mil trabalhadores se mobilizaram em defesa da jornada de oito horas diárias. A greve foi violentamente reprimida e cinco de seus dirigentes foram enforcados como punição.

Os resultados destas lutas começaram a aparecer, nos países de capitalismo avançado [Europa e Estados Unidos], na virada para o século XX: em 1861 na Inglaterra foram estabelecidas leis que reduziram a jornada de trabalho de mulheres e menores de dezoito anos para onze horas diárias; em 1890 o Congresso norte-americano instituiu jornada de trabalho de oito horas; em 1900, na França a legislação previu a passagem, em quatro anos, de doze para dez horas de trabalho por dia.

Enquanto isso, no· Brasil, com a instalação das primeiras indústrias no fim do século XIX, a média da jornada diária chegava a catorze horas. Os primeiros registros de mobilizações operárias brasileiras datam de então. No início do século XX, ocorreu a primeira grande greve geral (1906), cuja principal reivindicação era redução da jornada para oito horas por dia. A paralisação, iniciada em São Paulo, expandiu-se pelo interior paulista, atingindo também o Rio de Janeiro e teve adesão das principais categorias profissionais da época: chapeleiros, pedreiros, metalúrgicos, gráficos, carvoeiros, sapateiros, carpinteiros, costureiros, marceneiros, empregados no serviço de limpeza pública e trabalhadores nas indústrias têxtil e de alimentação.

Entretanto foi só a partir de 1930 que as leis trabalhistas tomaram corpo no Brasil. Com o projeto de fomentar a industrialização e modernizar o país, instituído pelo presidente Getúlio Vargas, o Estado passou a regular a jornada de trabalho. O decreto no 21.365, embora tivesse várias exceções como a possibilidade de realização do trabalho em até dez horas por dia e 60 horas por semana, regulamentou o horário normal e legal diurno das fábricas em oito horas diárias ou 48 semanais.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que entrou em vigor em 1943, manteve a duração da jornada de trabalho em 48 horas semanais, prevista no texto constitucional de 1934, tornou-se a principal base de relações trabalhistas no Brasil, e vigora até hoje. Além da jornada de oito horas diárias, ela passou a prever limite de hora extra a duas horas diárias, com adicional em 20% e a Lei de Férias (artigo 129) sem prejuízo da remuneração.

Desde a criação das Leis Trabalhistas de Getúlio Vargas pouca coisa mudou no que diz respeito a duração da jornada de trabalho no Brasil. Uma nova mudança significativa só ocorreu em 1988, com a nova Constituição. Nela, devido à forte influência do movimento sindical, a lei que determina a jornada de trabalho reduziu a carga horária de 48 para 44 horas semanais.

Um dos marcos deste processo de luta sindical foram as greves setoriais de 1985. No ABC os Metalúrgicos reduziram a jornada nas montadoras, em São Paulo, os metalúrgicos conseguiram junto com outras categorias a redução na convenção coletiva para todos os trabalhadores com a greve unificada de novembro. Hoje no Brasil a jornada formal é de 44 horas semanais, embora nas condições atuais técnicas seja possível reduzir ainda mais o tempo de trabalho. Na França, por exemplo, desde 2000 a jornada foi reduzida para 35 horas semanais em empresas com mais de vinte trabalhadores, e, em 2002 nas demais.

Mesmo com estas conquistas dentro das normas legais, o mercado informal, que se expande com intensidade desde a década de 1980, bagunçou as relações de trabalho. Com a precarização do trabalho perdeu-se o controle do tempo gasto com ele. A reforma trabalhista, com o desmonte da CLT, reforçada com o aceno à “liberdade econômica”, que na prática significa desregulamentação das relações de trabalho, são grandes ameaças a estes direitos já conquistados.

Carolina Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical.

Comentários



ÚLTIMAS DE

Artigos e Entrevistas

Fotos históricas

Documentos Históricos

  As fotos estão em ordem cronológica Remo Forli e Conrado Del Papa, no lançamento da pedra fundamental da sub-sede de Osasco do Sindicato dos Metalúrgicos...

VER MATÉRIA

Visão geral do acervo

Arquivo

Centro de Memória Sindical – Arranjo do Acervo

VER MATÉRIA

Arquivo – Sindicatos

Arquivo

Catálogo de coleções de sindicatos, acondicionadas em caixas contendo documentos em papel de variadas tipologias. Documentos de datas esparsas entre as décadas de 1930 e...

VER MATÉRIA

Jornais

Arquivoc

Catálogo de coleções de jornais. Jornais de datas esparsas entre as décadas de 1920 e 2010. Acondicionamento em pastas.

VER MATÉRIA

Música e Trabalho

PLAYLIST SPOTIFY MEMÓRIA SINDICAL

Show Buttons
Hide Buttons