A Greve Geral de 21 de julho 1983

12 jun 2019 . 12:06

https://youtu.be/GKYcSMwZMvc

Vídeo da convocação da Greve Geral em 21 de Julho de 1983, postado por André Henning, em 28 de junho de 2017.

No início da década de 1980, as profundas mudanças que ocorriam no Brasil refletiam um contexto internacional marcado pela eleição do presidente norte-americano Ronald Reagan (1981) que, de mãos dadas com a primeira ministra britânica, Margareth Tatcher, orquestrou uma política econômica internacional calcada no estado mínimo e na austeridade fiscal.

Pressionada pelos encargos da dívida externa, a economia brasileira entrou em colapso fazendo o governo recorrer aos empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI), que impôs severas condições para efetuar a transação.

Subordinado ao FMI, o governo teve que mudar as regras para a política salarial, ajustando os vencimentos abaixo da inflação, e para os gastos do governo, minimizando os investimentos na área social.

A elevação do desemprego e do custo de vida foram consequências imediatas. E a imposição de uma série de decretos pioraria ainda mais a vida dos trabalhadores.

O primeiro deles foi o decreto-lei nº 2.012 – de 25 de janeiro de 1983, sobre a política salarial. O segundo, de 30 de maio de 1983, decreto 2025, que eliminava benefícios e direitos dos empregados das estatais e do funcionalismo público, levou os trabalhadores a aprovarem, no dia 16 de junho, o estado de greve.

Treze dias depois, o presidente Figueiredo assinou um novo decreto, o 2036, que retirou do funcionalismo direitos como: abono de férias, promoções, auxílios alimentação e transporte, salário adicional anual e a participação nos lucros.

Manifestações contra as medidas do governo se espalhavam pelo país. Mas, mesmo assim, o famigerado decreto 2045 foi anunciado em 14 de julho de 1983. O 2045 arrochou ainda mais os salários e atingiu os aluguéis e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH).

Seguiu-se daí uma grande mobilização entre os trabalhadores, que se prepararam para a greve

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo distribuiu um milhão de panfletos convocando os trabalhadores para a paralisação e a Comissão Pró-CUT do Estado de São Paulo anunciou a distribuição de 1,2 milhão de comunicados com a seguinte pauta de reivindicações:

Fim das intervenções e devolução dos sindicatos de campinas, Bahia e São Bernardo.
Fora o pacote das estatais – Decreto lei 2036.
Fim do roubo no INPC – contra os decretos do arrocho 2012, 2014 e 2045.
Revogação do Pacote do BNH.
Congelamento dos preços dos itens de 1ª necessidade.
Criação de empregos e de salário desemprego.
Estabilidade.
Redução da jornada de trabalho sem redução dos salários.
Reforma agrária.
Fora o FMI.

Aquele dia amanheceu como um feriado

Uma semana depois da decretação do 2045, dia 21 de julho de 1983, uma quinta feira, cerca de três milhões de trabalhadores de diversas categorias e Estados paralisaram suas atividades na maior greve geral ocorrida durante o regime militar.

Aquele dia amanheceu como um feriado. Entre os grevistas, a adesão de 255 motoristas e cobradores de ônibus reforçou o clima de paralisação que dominava a cidade de São Paulo. E a cavalaria da Polícia Militar, que tomou o centro da cidade, promoveu uma intensa repressão, com mais de 800 prisões.

Apesar da repressão, os trabalhadores conseguiram derrubar os decretos 2036 e 2045 e todo esse processo de lutas contra os decretos levou a um expressivo aumento da participação dos trabalhadores nas assembleias sindicais.

Na revista do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, de outubro de 1983 , Antônio Toschi, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, enfatizou o caráter político da luta e a importância da unidade sindical que se verificou na greve geral de 21 de julho:

“A campanha salarial dos trabalhadores metalúrgicos de São Paulo, Guarulhos e Osasco se dá em um momento decisivo para todos os trabalhadores do país. No momento em que é preciso muita unidade para lutar contra a política econômica do governo que está atacando frontalmente os direitos da classe trabalhadora. Diante disso nossa proposta é: luta e unidade. É preciso ressaltar que esse esforço conjunto não é apenas por causa da campanha salarial. Embora esta seja fundamental, não é somente no período de dissídio coletivo que os Sindicatos devem mobilizar-se para garantir os direitos dos trabalhadores. Pelo contrário: se os Sindicatos dos Metalúrgicos de São Paulo, Guarulhos e Osasco estivessem mobilizados apenas para a campanha salarial seria muito difícil mostrar a unidade atualmente consolidada. A participação na greve do dia 21, a mobilização para combater os decretos-lei do arrocho e a luta pela democracia permitem que estejamos firmes e unidos nesta campanha salarial contra o arrocho. Da luta conjunta nasceu nossa unidade, na nossa unidade nascerá nossa vitória”.

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