Creed: Nascido para lutar

16 fev 2016 . 14:30

creed
“Creed: Nascido para lutar” (Creed)
 
EUA, 2015
Ryan Coogler
Com Andre Ward, Brian Anthony Wilson, Buddy Osborn
 
Existem filmes que se perpetuam em nosso imaginário. “Rocky, um lutador” é um desses. Lançado há 40 anos, ainda mantém o vigor, tornou-se cult e atravessa gerações.
 
Muita gente torce o nariz – até com certa razão – e considera-o um filme menor, no entanto, fato é que a história de Rocky Balboa levou 3 estatuetas (Melhor filme, direção e montagem) no Oscar de 1977, superando, dentre outros, clássicos como “Todos os Homens do Presidente” e “Taxi Driver”.
A saga Rocky ganhou outras versões ao longo das décadas:  algumas razoáveis; outras, oportunistas. Porém, quando todo mundo pensava que a trama já tinha sido nocauteada, eis que surge um novo desdobramento com a chegada de “Creed: Nascido para lutar”, que estreou (14/1) nos cinemas brasileiros.
A nova história se levanta do ringue pela boa direção de Ryan Coogler, que narra a trajetória de Adonis Creed (em atuação impecável de Michael B. Jordan), filho bastardo de Apollo “Doutrinador” Creed, adversário de Balboa na primeira versão. Rebelde e rejeitado, Adonis passou parte da infância em reformatórios, sempre arranjando confusões, sempre partindo para a briga, ou, como diz o título: nascido para lutar.
A vida do garoto se transforma quando a viúva de Apollo, Mary Anne (Phylicia Rashad) resolve adotá-lo. Com isso, Adonis tem a chance construir uma vida. Já adulto, mesmo trabalhando em uma grande empresa em Los Angeles, mantém o instinto por meio de lutas de boxe clandestinas no México. Uma clara referência às lutas amadoras de Rocky no primeiro filme. Esse instinto brigador de Adonis o faz abandonar o emprego para tentar a sorte como lutador profissional. Sai de casa e parte para a Filadélfia, onde encontrará Rocky (Sylvester Stallone) e o convida para ser seu técnico.
Idoso, Rocky segue sua vida à frente de sua cantina italiana. Sem muita perspectiva, o que sobra de seu passado de glórias são os quadros das lutas, pendurados na parede, como num grande museu de si mesmo. O convite de Adonis, mesmo depois de revelar ser o filho de Apollo, não seduz o ex-lutador, que já não encontra muito sentido na vida, como se entrando no último round, extenuado, combalido, pior, sem esperança.
Porém, a vontade e a determinação do jovem em entrar para o mundo da luta contagiam Balboa, que o encaminha à Academia de Boxe e, como se também o seu instinto o conduzisse, resolve treinar Adonis. Ao adentrar no universo da academia, Balboa não só reconduz o jovem Adonis, mas reencontra-se com seu destino.
Parte importante que distingue o filme bom do não interessante é a forma de conduzir a narrativa. Neste ponto, o diretor Ryan Coogler conseguiu manter o vigor de uma história que praticamente foi toda contada há 40 anos e convive no imaginário de muitos. Não é fácil o desafio de fazer um filme partindo de uma premissa já existente e muito explorada.
Porém, em “Creed”, Coogler consegue equilibrar o antigo/clássico com o moderno/contemporâneo. Preserva a atmosfera underground dos cenários de “Rocky” com os cenários suburbanos atuais. O mesmo acontece com a trilha sonora, tão marcante no primeiro filme, que revive em “Creed”, porém, “sampleada” com novas sonoridades eletrônicas. Nessa simbiose entre o passado e o tempo atual, Coogler recria “Rocky”, sem que se limite a um remake fiel (mas nunca negando as referências e fontes) e ainda com força para que “Creed” tenha a sua própria identidade.
As sequências de preparação do jovem para a luta, quando pareciam sucumbir ao óbvio e ao déjà vu, a história se desloca dos ringues para focar a vida de Balboa, um homem com passado glorioso, mas que se encontra sozinho e tem de conviver com as limitações físicas da senilidade. É como se existisse um curta-metragem inserido de forma sem interrupções na história do jovem Adonis.
“Rocky” e “Creed” habitam os imaginários porque transcendem o mero filme de entretenimento. A luta não acontece somente dentro dos ringues. A luta é também pela vida, pela superação física, emocional e social. Os dois filmes encantam também porque mostram um outro lado da “american way of life”, de prédios bonitos e pessoas sorrindo. Neles pode-se ver o retrato de seres humanos, repletos de contradições e sonhos, à margem do sistema. O soco no estômago chega quando se discute um mundo diferente das propagandas, quando retrata a vida de milhões que sofrem preconceitos, que lutam para superar seus traumas, que buscam um espaço na sociedade. Pela história de Balboa, “Creed” também abre discussão para um tema importante para a sociedade: a velhice.

Ricardo Flaitt é jornalista (MTb 40.939), estudante de História, colunista de cinema nos sites Brasil 247, Cinezen Cultural (Santos-SP) e Força Sindical. Contato: flaitt.ricardo@gmail.com

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