As Vinhas da Ira (Grapes of Wrath)

02 maio 2012 . 11:39

Casas abandonadas e a terra devastada onde antes havia grandes clãs familiares e plantações a perder de vista. O que houve? A atmosfera rural que predominou nos Estados Unidos até os anos 1930, foi derrubada pelo vendaval da crise da bolsa de Nova Iorque de 1929. Tal cenário foi retratado por Steinbeck, em seu livro As Vinhas da Ira e, em 1939, por John Ford, no filme homônimo.

FONTE: Carolina Maria Ruy

vinhas-1

1940, EUA
John Ford
Elenco: Henry Fonda – Tom, Jane Darwell – Ma Joad, John Carradine – Casey, Shirley Mills, John Qualen, Eddie Quillan

A história fala sobre a saga da família Joad, a expropriação das terras onde viviam e a viagem, pela Rota 66, de Oklahoma à Califórnia, com a ilusão de que as plantações de laranjas garantiriam emprego fácil.

O primogênito, Tom Joad, filho de pequenos sitiantes, após cumprir quatro anos na prisão retorna, em liberdade condicional, à comunidade onde vivia. Lá só encontra o ex-pregador Casy que já perdeu a fé, Muley um antigo morador, que ficara louco, e a nostálgica lembrança dos velhos tempos. Tommy descobre que a fazenda de sua família fora abandonada.

Ao reencontrar a família inicia-se a dura jornada para a Califórnia. A família Joad atravessa os EUA, percorrendo o caminho dos conquistadores do Oeste, como se perseguisse o velho sonho americano (o “american dream”).

Em determinado momento a família para em um bar para comprar comida. As crianças querem um doce, mas não possuem dinheiro suficiente. A garçonete forja um preço mais baixo que permite que as crianças possam comprar o doce. O interessante é que, logo a seguir, após os Joad saírem do bar, dois trabalhadores caminhoneiros, deixam, com a garçonete, um troco a mais, como gorjeta. É um tipo de ajuda das categorias de trabalhadores mais organizadas, como os caminhoneiros, que possuem renda salarial, para com os trabalhadores pobres. Ao deixarem o troco de dinheiro com o bar, os trabalhadores da estrada, que na década de 1930 possuíam grande organização sindical, “financiaram” indiretamente as crianças da família Joad. Cenas como esta são sutilmente pinceladas no filme, revelando alguma solidariedade entre os homens a despeito das atrocidades impostas pelo mundo do capital e do mercado.

Na chegada ao tão sonhado destino começa a desilusão. Eles entram em contato com o mundo de miséria ocultado pela suposta prosperidade capitalista. Aos trancos e barrancos descobrem fazer parte de um imenso contingente de trabalhadores expulsos de suas terras, e desesperados por qualquer tipo de colocação nas novas formas de emprego que se estabelecem.

Depois de muito sofrimento eles chegam a um acampamento estatal, do Ministério da Agricultura. Este é o único local em que encontram dignidade social, apesar da condição proletária. O diretor John Ford, nesta cena, passa a mensagem da importância do Estado em organizar a sociedade. É uma clara referência ao New Deal, plano do ex Presidente dos Estados Unidos, Frank. D. Roosevelt, para salvar o país da crise da bolsa.

A obra As Vinhas da Ira mostra o contraste entre o velho mundo dos pequenos agricultores, que preservava uma sociabilidade tradicional, com o novo mundo da grande empresa marcado pela desconfiança e indiferença pelos outros.

Mesmo sem conhecer a nova realidade a sabedoria da mãe Joad pressentia que a ordem social nascente tinha uma lógica perversa. No final, ao se despedir do filho, ela expõe o que mais teme: “Eles podem matá-lo e eu não saberei. Eles podem machucá-lo. Como vou saber?”. Tom, demonstrando maturidade social decorrente de sua penosa experiência, responde à mãe: “Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, eu estarei lá. Onde houver um policial surrando um sujeito, eu estarei lá. Estarei onde os homens gritam quando estão enlouquecidos. Estarei onde as crianças riem quando estão com fome e sabem que o jantar está pronto. E quando as pessoas estiverem comendo o que plantaram e vivendo nas casas que construíram. Eu também estarei lá”. Ao final, Ma Joad, compreendendo as palavras de seu filho, conclui: “Não podem acabar conosco. Não podem nos varrer. Vamos continuar para sempre. Pois nós somos o povo”.

O filme é um retrato trágico e belíssimo dos Estados Unidos da primeira metade do século vinte. As paisagens amplas, rios largos, plantações enormes, estradas longínquas, são elementos que embelezam o filme. Mas, por outro lado ele mostra o avesso da ostensiva sociedade estadunidense.

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