Django Livre

12 abr 2013 . 10:24

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Quentin Tarantino acertou em usar o faroeste para mexer com o imaginário e com a consciência americana. E ele foi longe buscando atores clássicos do gênero, como Franco Nero, a preciosa contribuição musical de Ennio Morricone e colocando o mocinho de Hollywood no papel de um terrível vilão, como Sergio Leone fez em Era Uma Vez no Oeste.

 


Por Carolina Maria Ruy

Django Livre (Django Unchained)
EUA, 2012
Quentin Tarantino
Com Christoph Waltz, Don Johnson, Franco Nero, Jamie Foxx, Leonardo DiCaprio e Samuel el Jackson

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Tarantino, ao que parece, entrou no rol das vinganças históricas. Depois do despeitado deboche com que tratou o nazismo de Adolf Hitler, talvez o maior crápula que a humanidade já criou, em Bastardos Inglórios (2009), em seu novo filme Django Livre, que se passa em 1858, dois anos antes da Guerra Civil, ele esfrega na cara da sociedade estadunidense as aberrações que alcançaram a escravidão no sul daquele país.

Foi no Mississipi que a exploração do trabalho escravo e a discriminação racial atingiram seus níveis mais escandalosos. Estado historicamente marcado por propriedades extensivas de terras, pelo grande contingente de negros, levados no contexto da colonização, e pela desigualdade social, o Mississipi é o maior exemplo de apartheid dos EUA. E este exemplo já foi amplamente usado no cinema, em filmes memoráveis como Mississipi em Chamas (Alan Parker, 1988) e Histórias Cruzadas (Tate Taylor, 2011).

Mas, mais do que uma denuncia, a intenção do filme é expor o ridículo, absurdo e a falta de cabimento do fato de algumas pessoas (de origem branca e europeia) disporem de outras (negras e de origem africana) como bem quiserem, como se fossem coisas (e não pessoas) e ainda, como se apenas o trabalho forçado não fosse o suficiente, descontando nelas, seus ódios e rancores mal resolvidos.

Como Tarantino não é um cineasta dado a sutilezas sua “crítica” ao trabalho escravo é curta e grossa. Quando os protagonistas chegam ao Mississipi, por exemplo, para que ninguém se engane sobre o que se está falando, o nome do Estado perpassa a tela em letras garrafais.

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E o filme segue assim: inteligente, bem humorado, mas não polido.

Recheado de violência e sadismo, em muitos momentos de seus 165 minutos somos levados a nos encolher na cadeira e, os mais sensíveis, a fechar os olhos. Não são as cenas de tiroteio, com mortos caindo por todo canto da tela, as que mais incomodam. Cenas pontuais, que envolvem crueldade e medo, e que mexem com nossos valores, são as que dão náuseas e arrepios. Com isso Tarantino conseguiu traduzir para o cinema o espírito da escravidão.

O cineasta acertou em usar o faroeste para mexer com o imaginário e com a consciência americana. E ele foi longe buscando atores clássicos do gênero, como Franco Nero (que fez o Djando original), a preciosa contribuição musical de Ennio Morricone (autor de conhecidas trilhas sonoras dos western spaghetti) e colocando o mocinho de Hollywood no papel de um terrível vilão, como Sergio Leone fez em Era Uma Vez no Oeste (1968).


Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical

 

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