Elis Regina canta: O Bêbado e a Equilibrista

05 abr 2014 . 15:46

Uma das mais conhecidas músicas da resistência contra a ditadura militar brasileira O Bêbado e a Equilibrista expressa a fragilidade e ambiguidade do processo de abertura política iniciado no fim da década de 1970.

Na memória social do Brasil a canção está fortemente identificada com a Lei da Anistia de agosto de 1979, sendo reconhecida como o “hino da anistia”. Não à toa. Depois de criada por João Bosco e Aldir Blanc, a intérprete Elis Regina mostrou a música ao cartunista Henrique de Souza Filho, o Henfil, que, por sua vez, ligou a música ao processo que se iniciava: “Agora temos um hino, e quem tem um hino faz uma revolução” afirmou Henfil.

Mas curiosamente o tema original da música não era a Anistia. Embora a letra se refira claramente a esse processo ao dizer: “Que sonha com a volta do irmão do Henfil/Com tanta gente que partiu/Num rabo de foguete/Chora/A nossa Pátria mãe gentil/Choram Marias e Clarisses/No solo do Brasil”, a melodia de João Bosco é uma homenagem ao ator e diretor Charlie Chaplin, falecido em 1977.

Sua harmonia tem acordes da canção Smile, do filme Tempos modernos (1936). E em sua letra, como uma esperança para abertura democrática, foi citada a história do sociólogo Hebert José de Sousa, o Betinho, “irmão do Henfil”, exilado no México desde 1971.

Mesmo que a Lei da Anistia tenha sido conquistada a duras penas, frágil, ingênua e vacilante como o bêbado e a equilibrista, atendendo apenas parte do interesse nacional, ela era um sinal de novos tempos.

Na chegada dos anistiados ao Brasil muitas pessoas levaram gravadores para tocar O Bêbado e a Equilibrista de modo que o casamento entre a música e aquele momento ficaria selado. Foi com essa trilha sonora que Betinho foi recebido no Aeroporto de Congonhas em 1979.

O Bêbado e A Equilibrista

(Composição: João Bosco e Aldir Blanc/1979)

Intérprete: Elis Regina

Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos

A lua tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
Meu Brasil!

Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora
A nossa Pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil

Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar

Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar

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