Escola de Rock

18 out 2013 . 10:03

 

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No relativo avanço da humanidade, no que diz respeito à cultura e à educação, é louvavel que a rebeldia contestadora e transformadora de outros tempos, seja resgatada, compreendida, cultuada e assimilada por um sistema social não tão subversivo nem tão submisso.


Por Carolina Maria Ruy

Escola de Rock, School of Rock
EUA, 2003
Richard Linklater
Com Jack Black e Joan Cusack

Seja por causa da aids, ou de duas décadas perdidas, seja por causa da crise do petróleo, da crise econômica ou da crise ambiental. Qualquer que seja o fenômeno sociológico que pairou no inconsciente coletivo dos adultos das décadas de 1990 e 2000, o fato é que ele mexeu com os valores de uma geração.

Aqueles que vieram ao mundo nos anos 60 e 70 logo perceberam que teriam que andar na linha e seguir algumas regras para angariarem sua escalada social. Foram convencidos, antes de tudo, que deveriam angariar uma escalada social.

O lema “paz e amor” dos hippies e “faça você mesmo” dos punks, jovens de outrora, tornou-se então peças ilustrativas para o design ou para a publicidade, numa lógica perversa onde a própria contestação é incorporada e capitalizada pelo “sistema”. Ou pelo “cara” como ensina Jack Black no papel do roqueiro Dewey Finn.

Segundo ele o “cara”, representante mor do “sistema”, é o que faz com que você ande na linha. É o agente opressor, contra o qual, na visão de Dewey, a juventude deve se rebelar (juventude definida aqui por um estado de espírito e não por critérios etários). As máximas dos hippies e dos punks tornaram-se, enfim, folclores e suas imagens apenas uma fotografia na parede. E que não doí.

Considerando que os filhos da geração yuppie chegaram ao mundo na década de 1990 (as crianças do filme, produzido em 2003, tem 10 anos de idade) pode-se dizer que eles nasceram em um ambiente mais sóbrio e mais “preocupado”.

Temos então um cenário em que os estudantes são moldados desde cedo, física, intelectual e psicologicamente, pelo compromisso de vencer no mercado de trabalho, ascender e estabelecer-se socialmente. Estes são os pré-adolescentes do filme que, por uma sorte do destino, começam a ter aulas com Dewey Finn, um roqueiro convicto e apaixonado que nunca quis nada com a escola.

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Difusa, informal e desorganizadamente Finn assume a missão de ensinar seus alunos a “chutarem o balde”. Até mesmo seu pretexto é incorreto e contra as regras. Ele não está lá para salvar. Está para se salvar. Para ganhar dinheiro exercendo uma profissao que não é a dele e, posteriormente, para usar seus alunos para retornar ao mundo da música.

Seus atos simbolizam não uma falta de caráter, mas um desajustamento social. Uma atitude, acima de tudo, que contesta esta sociedade.

Assim ele passa ao largo da gramática, da geografia e da matemática. Seu programa educacional baseia-se no passo a passo da rebeldia, na fórmula da subversão e na didática do rock and roll. Vídeo clips, instrumentos musicais, cds e imagens de shows fazem as vezes do material didático. O objetivo do curso é demonstrar, entre outras coisas, como Jimi Hendrix colocou sua alma na guitarra ou como Jimi Page desfiava suas paixões no palco. É buscar entender como aqueles gênios transformaram a realidade, recriaram os sentimentos e pularam de cabeça em suas artes, entregando seu sangue, plasma, corpo e alma…

Com isso ele envolve sua turma em um projeto instigante, que os leva a buscar conhecimentos até então adormecidos. Um projeto musical que desperta o talento de cada um.

O curioso é que para aquelas crianças de pais temerosos é preciso ensinar a essência do “teen spirit” (espírito adolescente) cantado por Kurt Cobain nos idos de 1992. Curioso também é o fato de que no fim até mesmo Dewey Finn se enquadra. Toda sua pureza roqueira é também incorporada ao sistema escolar.

Pensando assim seria o próprio filme, como produto da insdústria cultural, uma capitalização do rock? Não. No relativo avanço da humanidade no que diz respeito à cultura e à educação, é louvavel que essa rebeldia tratada aqui, essencialmente contestadora e transformadora, seja resgatada, compreendida, cultuada e assimilada por um sistema social não tão subversivo nem tão submisso.


Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical

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