Estado de Sítio

27 set 2013 . 10:56

Na década de 60 o mundo vivenciava uma guerra silenciosa entre dois polos com interesses e modos de vida diferentes. De um lado, um bloco encabeçado pelos Estados Unidos, símbolo maior do sistema Capitalista e; de outro, o bloco da União Soviética, que se estabelecia sob um regime socialista.

Por Ricardo Flaitt

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Estado de Sítio (État de siège)
França / Itália, Alemanha Ocidental, 1972
Costa-Gavras
Com Philip Michael Santore (Yves Montand), Capitão Lopez (Renato Salvatori), Carlos Ducas (O.E.Hasse)

Nesse jogo de xadrez num tabuleiro mundial, onde as peças eram povos e nações, os Estados Unidos comandou uma ofensiva no sentido de barrar os avanços do socialismo. Para isso utilizaram os mais variados e inescrupulosos recursos, que vão do marketing e o controle da mídia a ações diretas, invadindo e ocupando os países na força, na guerra direta.

De forma a equilibrar, é pertinente registrar que a União Soviética também financiou esquerdas no mundo para ampliar o seu sistema. Evitamos assim recairmos sobre uma dicotomia muito cristalizada e propagada, que determina os EUA como o mal e a União Soviética o bem. Não enveredarei sobre esse caminho de conceitos, motivo de décadas de discussões, livros e uma infinidade de apontamentos.

Na América Latina nem todos os países foram dominados por meio de uma guerra. A batalha que se travou estabeleceu-se de forma dissimulada, no campo da política. Assim, as peças que não interessavam aos Estados Unidos e o bloco de países que tinham interesses na afirmação do sistema Capitalista não precisaram de muita força militar para aplicar o golpe de estado.

Depois de consolidado o golpe era necessário “administrar” o regime ditatorial. Nesse sentido, os Estados Unidos forneceu aos países latino-americanos recursos financeiros, bélicos e disponibilizaram agentes para treinar as polícias políticas, com objetivo de reprimir as manifestações contrárias ao novo sistema em vigor.

É sob esse contexto que se desenvolve o filme “Estado de Sítio”, de Costa Gavras. Baseado numa história real ocorrida no Uruguai, o filme narra/denuncia a história do sequestro do agente americano Dan Mitrione, assassinado pelos Tupamaros (grupo de resistência ao regime ditatorial).

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O real Dan Mitrione, no filme Phillip Michael Santore (interpretado por Yves Montand) foi assassinado pelos Tupamaros em 10 de agosto de 1970. Era um agente americano responsável em treinar a polícia política. Passou pelo Brasil, onde recebeu até nome de rua em Belo Horizonte durante o período militar. “Honraria” que foi retirada após a redemocratização do país.

Gavras, a partir do sequestro e execução de Mitrione, entrelaça todos os movimentos das ações praticadas pela esquerda (Tuparamos) e direita (governo / americanos). A ação dos Tupamaros por mais direitos e liberdade ao povo envolveu também o sequestro do embaixador brasileiro Campos (Rafael Benavento).

A partir do momento em que o Governo fica sabendo do sequestro de Mitrione era preciso estabelecer medidas para encontrar e condenar os responsáveis.
O que estava em jogo não era só a vida do agente americano, mas também a demonstração de poder e força da Ditadura em coibir qualquer iniciativa de grupos contra o sistema.

Já a vida de Mitrione, para os Tupamaros, representava moeda de trocas para reivindicações no sentido de libertar companheiros de luta e outros direitos.
Gavras consegue entrelaçar diversas situações que se desencadeiam a partir do sequestro. A posição do Governo, que tinha que manter o controle sobre os grupos de resistência, os movimentos da clandestinidade para se organizar e reivindicar direitos, a forma como retratava a situação e a verdadeira guerra política travada no Parlamento, uma outra guerra inserida num sistema maior.

“Estado de Sítio” nos dá parâmetros próximos da realidade, de como as ditaduras implantadas na América Latina agiam, ao mesmo tempo, como era a reação de grupos que lutavam pela retomada do Estado Democrático.

Ainda que uma situação transcorrida no Uruguai, “Estado de Sítio”, é uma síntese perfeita desse período de instalação da ditadura em diversos países da América Latina, seus desdobramentos, consequências e as reações de oposição ao sistema que suprimia os direitos e tentava controlar o povo.


Ricardo Flaitt, Alemão, é assessor de imprensa da Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo, colaborador no Centro de Memória Sindical e estudante de História.

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