02 maio 2012 . 11:32
Esta é a história de Hurricane, o homem que as autoridades vieram a culpar. Por algo que ele nunca fez. Posto na prisão, aquele que poderia ter sido campeão do mundo (Hurricane, Bob Dylan)
Por Carolina Maria Ruy
Hurricane – O furacão (The Hurricane)
1999, EUA
Norman Jewison
Com Denzel Washington
Esta é a história de Hurricane, o homem que as autoridades vieram a culpar. Por algo que ele nunca fez. Posto na prisão, aquele que poderia ter sido campeão do mundo (Hurricane, Bob Dylan)
The Hurricane é um bom filme sobre a discriminação racial. Ele retrata o cruel viés autoritário e discriminatório, muito forte em algumas regiões dos Estados Unidos até o fim da década de 1980, e serve como exemplo de como é desumana a prática do racismo, disseminada universalmente.
Mas, mesmo com este teor engajado, The Hurricane não é um filme contaminado pelo ranço esquerdista e panfletário que comprometeu muitos filmes, sobretudo da década de 1970, com alguma pretensa mensagem política. A mensagem política e social de The Hurricane é passada com certo grau de agradabilidade e sensibilidade, aquilo que os americanos sabem fazer bem. O filme é romanceado.
Vale lembrar que Rubin “Hurricane” Carter, foi um famoso pugilista negro estadunidense entre 1961 e 1966. Ele foi condenado injustamente, à prisão perpétua, em uma época em que o apartheid era uma triste realidade e o racismo corria sem restrições. Mas, como aquela época foi marcada por extremos, os movimentos sociais e as campanhas pelos direitos civis também sabiam ser radicais. E Hurricane contou com uma extensa campanha pela revisão de seu processo e pela sua libertação.
Desta campanha destaca-se a participação do cantor e compositor Bob Dylan, que, neste contexto, compôs a música Hurricane, na qual ele relata a história que terminou com a injusta prisão do boxeador.
Ele foi condenado em 1967, por um júri composto apenas por brancos, durante período de rebeliões raciais em Newark. Anulado o julgamento, porque policiais teriam coagido testemunhas e cometido perjúrio, foi novamente condenado, com fundamento em outro motivo: a promotoria construiu a história de que o assassinato fora praticado por motivos raciais. Naquela época autoridades eram facilmente corrompidas por famílias brancas vinculadas à Ku Klux Klan, que manipulavam e camuflavam as investigações. O crime só teve julgamento honesto 38 anos depois, e ainda sim, somente um dos quatro acusados foram presos.
Por ser negro, além de ter sido preso mais de uma vez por um crimes que nunca cometeu, Carter também deixou de receber o título que tinha conquistado: o Cinturão de Campeão de Peso Médio do Boxe. Ele teve que aguardar décadas, gerações, mudanças de governos, mudanças na mentalidade social, para que todas estas injustiças fossem reparadas.
Sua vida é, então, exemplo para todos aqueles que, ainda hoje, sofre com a contaminação do sistema judiciário por preconceitos e dogmas sociais.
Em tempo: chama a atenção o número de filmes sobre vidas de boxeadores nos Estados Unidos. Isso se deve à popularidade deste esporte por lá, mas, em um sentido simbólico revela a exploração do corpo humano, da mão de obra, pelo trabalho.
Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical
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