02 maio 2012 . 16:05
1995, EUA John Smith
FONTE: Carolina Maria Ruy
O filme Mentes Perigosas fala das minúcias de um tipo de trabalho. Dos pequenos detalhes que faz com que o trabalhador seja o que é. Neste caso: professor.
A história é baseada em fatos reais, registrados pela verdadeira LouAnne Jonhson no livro “My posse don’t do Homework”. O diretor John Smith misturou atores não profissionais com profissionais, dando mais credibilidade ao filme.
Situações que expõe a multiculturalidade étnica, a origem e integração social dos alunos, a formação de professores e a indisciplina no contexto escolar dão o tom do filme. Produzido em meados da década de 1990, ele se passa em um contexto em que, de um lado há uma alta taxa de desemprego, sentida fortemente entre os jovens, e do outro, há um expressivo aumento do contingente de alunos regularmente matriculados em escolas.
Ao assumir uma classe “especial”, daquelas com alunos com problemas de disciplina, a professora LouAnne (Michelle Pfeiffer), sente que não está preparada para o desafio. Com a convivência, ela percebe que a indisciplina está atrelada ao histórico sócio-cultural de cada aluno. O primeiro obstáculo que surge entre a vontade de ensinar do professor e a incapacidade de aprender dos alunos dos alunos é a própria instituição escolar, incapaz de assimilar alunos com diversos perfis, culturas e origens sociais. LouAnne desafiará todas as regras, criando o seu próprio currículo e recorrendo a recompensas (chocolates, passeios, jantares) por bons resultados em sua matéria. No decorrer da trama ela incentiva a classe a ver o conhecimento como uma arma intelectual que os prepara para os obstáculos da vida, e mostra que o próprio aprendizado é a principal recompensa.
Com esta dinâmica o filme mostra que todos aprendem: alunos e professor. Mas ele ainda deixa muitas questões no ar. LouAnne foi negligente ao associar o aprendizado a um ganho material imediato? Onde fica a luta pela melhoria da instituição? É possível ganhar um aluno só pela força das idéias?
Parece consenso dizer que a escola, como uma instituição, carece de ajustes. A famigerada indisciplina é um mar de equívocos. É recente o fato de as classes sociais mais pobres freqüentarem em massa a escola. As desigualdades sociais, marcadas antes pelos escolarizados e não escolarizados, se fez sentir no interior da própria escola, que criou seus próprios meios de discriminação e marginalização dos alunos. No filme a família de um dos alunos (o personagem Raul) afirma que ele será o primeiro a concluir a high school (o equivalente ao ensino médio no Brasil). Em outro momento a mãe de dois alunos tira-os da escola alegando que ela não está criando “doutores” e sim trabalhadores que tem que pagar as contas. São passagens que mostram o choque com esta nova realidade em que os filhos podem freqüentar a escola.
A educação suscita debates profundos que envolvem diversos setores da sociedade. Cem minutos de ficção não podem fechar a questão.
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