02 maio 2012 . 15:58
1979, EUA Martin Ritt
FONTE: Carolina Maria Ruy
Se em alguns filmes o debate sociológico fica subjacente em outros ele aparece como sua própria linha condutora.
A construção do enredo do filme Norma Rae, por exemplo, está cravada no trabalho e na sindicalização de uma indústria de tecido. Em torno deste núcleo giram todas as aventuras, descobertas, amores e conflitos da história. Exibido a partir de 1979, época de grande efervescência nas organizações de esquerda, pode-se imaginar o impacto que o filme causou, especialmente no Brasil, que ainda vivia sob a repressão da ditadura militar. A obra já se consagrou como um dos clássicos sobre o mundo do trabalho. Sally Field, que vive a personagem que dá nome ao filme, figurou como modelo para militantes de esquerda da época, muitos dos quais responsáveis pelas conquistas democráticas que desfrutamos hoje.
Os primeiros momentos do filme mostram os trabalhadores em suas funções: o barulho ensurdecedor das máquinas, o pó que levanta dos tecidos, a sujeira das engrenagens, a tensão, a alienação. Fora da fábrica as relações parecem romper os ditames da sociedade. Aos trinta e um anos Norma Rae tem dois filhos de pais diferentes, é solteira e vive com seus pais.
Neste cenário surge Reuben Warshowsky (Ron Leibman), um sindicalista judeu, vindo de Nova Iorque. O filme ressalta o forte preconceito do sul dos Estados Unidos. O nova-iorquino é duplamente repudiado por ser sindicalista, judeu (e, quiçá, comunista). Junto com a nova amiga, a rebelde Norma Rae, que logo se engaja na luta sindical, ele consegue ser ouvido pelos trabalhadores que são convencidos da necessidade do sindicato.
O filme cumpre seu papel na exposição das ações sindicais, mas não se aprofunda nos conflitos que marcavam o interior das próprias organizações e passa ao largo de reflexões existenciais e psicológicas sobre a personalidade dos sindicalistas e militantes. Eles aparecem como personagens unilaterais, desprovidos de incertezas. Até mesmo seus erros parecem enaltecê-los. Enquanto Norma Rae veste a carapuça de heroína dos tempos modernos Reuben não vacila em ditar “verdades e lições”, combinando com seu discurso modos áridos e uma rudeza pretensamente necessária aos militantes sindicais. É possível entender a necessidade desta postura em tempos de chumbo. Hoje, entretanto, ela não passa de um estereótipo.
Norma Rae é baseado na história real de Crystal Lee Sutton, que liderou uma campanha contra as condições de trabalho oferecidas pela J.P. Stevens Mill.
Premiações:
2 Oscars, nas categorias de Melhor Atriz (Sally Field) e Melhor Canção Original (“It Goes Like It Goes”)
Globo de Ouro de Melhor Atriz – Drama (Sally Field)
Prêmio de Melhor Atriz (Sally Field) e o Grande Prêmio Técnico, no Festival de Cannes.
PLAYLIST SPOTIFY MEMÓRIA SINDICAL
Um filme necessário para a classe trabalhadora do século XXI, que segue sendo expoliada pela sanha do capital. Um filme agudamente crítico da exploração do homem pelo homem.