02 maio 2012 . 16:01
1985, EUA Clint Eastwood
O Cavaleiro Solitário não é um clássico do mundo do trabalho. Ele não aborda diretamente a questão operária, nem usa os termos típicos das narrativas das obras que a abordam. Mas pode-se dizer, sem medo de errar, que um sindicalista experiente, ao assisti-lo, logo pode identificar situações muito familiares. Elementos de organização da classe trabalhadora consistem na linha condutora do filme, que evidencia a necessidade da coletividade e da ação conjunta.
Na primeira cena a paisagem serena das montanhas rochosas, no noroeste dos Estados Unidos, contrasta com o barulho da cavalaria dos bandoleiros que atormentam a comunidade a mando de um poderoso banqueiro. O pó vermelho que levanta da terra ressecada e o intenso movimento anunciam o conflito que esta para se desenrolar. Para explorar a região em busca de pedras preciosas o banqueiro, usa de todos os meios para forçar os moradores a irem embora. Sua potente estrutura de prospecção seria o equivalente a alguma indústria mercenária e poluidora. Ávida por lucro, ela não respeita as normas sociais, trabalhistas ou ambientais.
O cavaleiro solitário (interpretado pelo próprio Clint Eastwood) é, então, invocado na floresta e surge como uma criatura espiritual, entre as montanhas. Ele é um estranho que logo se coloca na defesa dos moradores injustiçados e ganha a simpatia de todos. Sua presença, mais do que garantir a segurança incentiva a organizações entre as pessoas da comunidade na luta contra um inimigo comum: o banqueiro saqueador.
Western ou o faroeste, como gênero cinematográfico, refere-se, de forma romanceada, ao processo de colonização na fronteira do Oeste estadunidense (a partir da linha do Mississipi), desde o período que precede a Guerra da Independência dos Estados Unidos (Guerra da Secessão) até a virada do século XX. O Cavaleiro Solitário é um clássico do faroeste que, embora não se limite apenas à rincha entre o mocinho e o bandido, é fiel ao gênero, apresentando uma história linear, com uma moralidade bem definida (o antagonismo entre o bem e o mal) e uma imagem imponente da natureza.
Em certo momento já avançado do filme, há uma reunião entre os garimpeiros em que eles discutem uma oferta em troca de suas partidas daquelas terras. Apesar da generosidade da oferta, no debate surgem outros valores que fazem com que eles defendam a permanência e a luta. Valores impagáveis como o apego ao lugar e a memória dos que já se foram em nome da mesma batalha. Ressalta-se desta forma que não se trata apenas de interesses materiais. Este é um ponto muito interessante para se comparar aos típicos movimentos de trabalhadores.
Parafraseando o compositor Arnaldo Antunes o trabalhador não quer só comida, ou salário, ele quer também diversão e arte, ele quer a vida como a vida quer.
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