02 maio 2012 . 11:17
Na pequena cidade Coalwood, em West Virginia, o menino Hommer estava entre o risco de ter que ser minerador e o sonho com viagens espaciais. A dicotomia entre o espaço e o interior da terra perpassa todo o filme O Céu de Outubro, tanto pelos seus contrastes quanto pelas similaridades de seus rituais: esforço, dedicação, conhecimento, persistência, coragem e uma grande dose de paixão.
FONTE: Carolina Maria Ruy
O Céu de Outubro (October Sky)
1999, EUA
Joe Johnston
Com Jake Gyllenhaal, Chris Cooper, Laura Dern, Chris Owen, William Lee Scott, Chad Lindberg e Natalie Canerday.
A dura realidade das cidades economicamente dominadas por minas de carvão é tema recorrente no cinema. Não à toa, tal atividade extrativista, executada largamente, sobretudo para obtenção de carvão como combustível, carrega em si grande potencial dramático. Potencial reforçado por contextos históricos de condições sociais extremadas, nos quais a mineração foi forte.
Em filmes como Terra Fria, Kes, Billiy Elliot e O Germinal, a rudeza da mina era, antes de tudo, uma condenação. Consumação física do homem. Mineiros traziam nas mãos, no rosto, nas roupas, nos pulmões, a maquiagem cor de chumbo que os definiam. Homens que se tornavam abstratos por, pouco a pouco se confundirem uns com os outros, por não se diferenciarem mais de suas rochas.
Mas O Céu de Outubro, curiosamente, parece trazer algum alívio à pesada aura deste ofício. O elevador que desce para o fundo da Terra ainda é assustador. Os acidentes são devastadores e implacáveis. John Hickam (Cooper), uma espécie de gerente da mina, entretanto, gosta do que faz, gaba-se de conhecer bem seu objeto de trabalho e quer iniciar seus filhos nesta carreira.
Parece justo, uma vez que todo trabalho tem suas manhas e carrega algum sentido.
Sua inspiração, todavia, não anima os jovens da cidade, que sonham com a remota possibilidade de traçar um futuro longe da mina. Possibilidade concedida apenas aos poucos estudantes que recebem bolsa para universidade por se destacarem no time de futebol.
E futebol não é a praia de Homer Hickam Jr. (Gyllenhaal). Nem futebol, nem mineração. Ele, que literalmente vivia com a cabeça nas nuvens, é justamente o filho que John tentará incentivar a ser mineiro.
Eis que a notícia de que o satélite soviético Sputnik cruzará os céus de Coalwood muda o rumo desta história.
No bojo de sua angústia e falta de perspectivas, Homer contempla o satélite e se põe a sonhar com o espaço. É a guerra fria em sua dimensão subjetiva, envolvendo medos, orgulhos e motivações.
Homer, que tinha seu destino traçado por aquela realidade, vê despontar no horizonte o advento de um novo tempo. E, com o afinco que herdou de seu pai e a ajuda de mais três amigos e do “CDF” da escola, e incentivados pela professora (Laura Dern) do colégio onde estuda, dedica-se à criação de foguetes.
O ambiente do filme também é marcado pela atividade sindical, por greves, e pelos riscos e acidentes na atividade de mineração. Curiosamente, o título “October Sky” é um anagrama de “Rocket Boys”, título original do livro autobiográfico de Homer Hickam Jr., em que o filme se baseou.
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