02 maio 2012 . 17:13
2007 EUA Shari Springer Berman e Robert Pulcini
FONTE: Carolina Maria Ruy
É no museu de antropologia que esta história começa e acaba. Dado muito importante para compreender o sentido do filme O Diário de uma Babá. Nele, cenas e objetos do cotidiano são colocados em observação.
A protagonista Annie Braddock (Scarlett Johansson), antropóloga recém-formada e ávida por decifrar o mundo, vive o papel de babá como se tivesse realizando uma pesquisa científica. Assim, como se observasse a história de fora dela, nos faz refletir sobre este trabalho.
A personagem de Johansson quer e precisa trabalhar, mas o mercado para os antropólogos não parece aberto para ela. O acaso faz, então, com que ela salve uma criança que corria pelo parque de um possível atropelamento. Logo surge a mãe do menino, uma socialite inábil para lidar com ele. A admiração da mãe pelo gesto da antropóloga faz com que ela decida oferecer à Annie o trabalho de cuidar de seu filho, ainda que ela não esteja pleitiando o cargo. Como se tivesse, enfim, encontrado um caminho profissional, em sua imaginação Annie encarna a Mary Poppins (musical de 1964 em que uma babá perfeita desce das nuvens segurando um guarda-chuva), e convence-se que nasceu para isso.
À primeira vista pareceu fácil ficar naquela casa imponente e cuidar de um “adorável” garoto, como constatou nossa heroína entre o meio e o fim do filme. Ledo engano. Ela não contava com as regras, com a pressão e com a subordinação. Aí está a graça da história. Ao adentrar o mundo do emprego doméstico o filme procura dar voz àqueles que nunca são consultados. O brilho da história não está no saguão principal, mas no quarto dos fundos.
Apesar do tom água com açúcar é um filme que proporciona reflexões interessantes ao colocar uma família da alta sociedade nova-iorquina como objeto de estudo antropológico. Um momento irônico, e um tanto tenso, que depois levará ao desenlace do filme, é a palestra, para as socialites, sobre as dificuldades de relacionamento com as babás. Obviamente as empregadas não fazem críticas. Mas as madames se queixam de coisas como o fato de muitas de suas funcionárias não dominarem o idioma inglês (trata-se de mulheres migrantes que dependem de subemprego para se sustentar). É uma demonstração direta da desigualdade social sobre a qual se implantam irracionais relações de poder.
Outro dado interessante é que, mesmo determinada a sair de tal situação, Annie não consegue pedir demissão, nem se desfazer do emprego. Mesmo estando como observadora em um trabalho inapropriado para sua formação, Annie encarna verdadeiramente o constrangimento dos empregados frente aos seus patrões.
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