02 maio 2012 . 10:59
Em uma das frases mais emblemáticas de O Sol da Meia-Noite o bailarino Nikolay Rodchenko diz que é russo, mas não soviético. Assim ele se coloca claramente contra o regime comunista iniciado em 1917.
FONTE: Carolina Maria Ruy
O Sol da Meia-Noite (White Nights)
EUA 1985
Taylor Hackford
Com Mikhail Baryshnikov, Gregory Hines, Geraldine Page, Isabella Rossellini
Já nos últimos anos de existência da União Soviética, época de acirramento da Guerra Fria, Rodchenko (Baryshnikov), um famoso bailarino soviético que desertou de seu país, vive nos Estados Unidos. Mas, por um azar do destino, em meio aos deslocamentos impostos pelas suas apresentações, ele literalmente cai em sua terra natal e acaba em uma base militar da URSS.
Na tentativa de driblar o cerco ele rasga seus documentos e se declara de origem francesa, já que, em outros tempos, a França primava pela diplomacia e pela garantia às liberdades individuais.
Mas seu rosto famoso o condena e logo os agentes da KGB desfazem a farsa.
Rodchenko, então, torna-se prisioneiro político, sob constante vigilância dos agentes e do dançarino estadunidense, também desertor de sua pátria, Raymond Greenwood (Hines).
O filme coloca, desta forma, o encontro de dois refugiados em tempos de Guerra Fria. Greenwood não é um espião, nem tampouco um militar. Ele é dançarino de sapateado. Mas, para manter-se em terras soviéticas é obrigado a colaborar com o regime, o que justifica sua ação.
Veterano da Guerra do Vietnã, Greenwood também é desiludido com seu país, os EUA. Além das atrocidades da guerra ele, sendo negro, julga o forte racismo e a precária condição de vida a que ele estava condenado antes de buscar refúgio na oponente URSS.
Os dois artistas iniciam um convívio conturbado, que posteriormente se torna uma grande amizade. A pressão que ele, Rodchenko e sua namorada russa, interpretada pela então estreante Isabella Rossellini, sofrem, faz com que Greenwood reavalie sua posição e queira voltar para seu país.
O filme é interessante por parodiar a Guerra Fria, brincando com a dualidade (ou a bipolaridade, como queiram). Um russo branco e um americano negro, o balé clássico e o sapateado. Opostos que acabam por se encontrar em situação similar, a exemplo dos países dominantes na ordem bipolar. União Soviética e os Estados Unidos, que com o fim da Segunda Guerra Mundial, disputam pela instauração de um determinado modo de produção, adotando, para isso, ações semelhantes: repressão, perseguições, censura.
Mesmo sendo anticomunista o filme oferece a possibilidade de uma reflexão sobre os meandros percorridos pela política na historia recente. Uma política que se infiltra em todos os poros da vida pública. Como na arte, belamente exposta em O Sol da Meia Noite.
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