02 maio 2012 . 17:23
2007, Brasil Fabiano Maciel
Se conceitualmente o trabalho é a transformação da natureza, a arquitetura é uma de suas imagens mais emblemáticas. Justifica-se, então, a introdução do documentário A vida é um sopro em uma lista de filmes sobre o trabalho.
Mais do que isso, tal inserção justifica-se também por mostrar o lado criativo e prazeroso do trabalho. No filme o já centenário Oscar Niemeyer, um dos melhores arquitetos do mundo e que possui mais de 800 obras, fala de seu trabalho com paixão e idealismo. Este seria o ideal, que o trabalho sempre inspirasse a paixão e o idealismo de construir a sociedade humana.
Os 90 minutos de A vida é um sopro mostram Niemeyer falando sobre sua vida, seu ideal de uma sociedade mais justa e sobre como ele concebeu seus principais projetos. Sua fala é entrecortada por imagens originais de construções de suas obras, além de imagens de suas obras e depoimentos de figuras importantes como José Saramago, Eric Hobsbawn, Nelson Pereira dos Santos, Ferreira Gullar, Carlos Heitor Cony e Chico Buarque, entre outros. Filmado entre 1998 e 2007, o filme discorre sobre a clareza das linhas, o pensamento social de Niemeyer e suas inovações culturais e arquitetônicas.
Inicialmente Niemeyer trabalhou com uma idéia tradicional de arquitetura, que apenas reproduzia, através do ensinamento das técnicas, o estilo existente. Influenciado por arquitetos que foram além dos limites da instrução formal, sobretudo de Lucio Costa e Le Corbusier, ele percebeu que poderia inovar e transgredir as velhas fórmulas.
A construção do edifício do Ministério da Educação e Saúde (atual Palácio Gustavo Capanema), entre 1936 e 1945, no Rio de Janeiro por um grupo de arquitetos liderado por Lucio Costa, do qual participou Oscar Niemeyer, foi uma das ações que marcou o início da nova arquitetura no Brasil. O edifício aproveitou o ambiente natural e reforçou a integração entre arquitetura, paisagismo e artes plásticas.
Tendo amadurecido como arquiteto Niemeyer exaltou a plasticidade das formas paisagísticas brasileiras, apondo-se à rígida linha reta do Estilo Internacional. O resultado foi uma arquitetura sinuosa que brinca com as formas e com a fantasia. Sua primeira grande criação foi Pampulha em Belo Horizonte. De Pampulha até hoje, passando pela construção de Brasília, sua arquitetura seguiu a mesma liberdade e inventividade plástica.
A elaboração do projeto e a construção de Brasília foram impulsionadas pelo entusiasmo do então presidente da República, Juscelino Kubitschek. Segundo Niemeyer a idéia de JK era que Brasília fosse uma cidade atualizada e moderna, representando a importância de nosso país. A capital foi inaugurada em abril de 1960 como uma monumental paisagem simbólica e surrealista. O espaço aberto para marchas e movimentos sociais em frente à Praça dos Três Poderes e ao Palácio do Planalto marcaram o idealismo de Niemeyer.
Entretanto, nos vinte anos em que a ditadura militar ocupou nosso país e a capital Brasília (1964 a 1985), Niemeyer exilou-se no exterior. Lá fez algumas das suas melhores obras: a sede do Partido Comunista Francês, a Bolsa de Trabalho em Bobigny, o Espaço Oscar Niemeyer, no Havre, a sede Fata, em Turim, a Mondadori, em Milão, as universidades de Constantine e Argel, na Argélia.
Como ele próprio diz, sua arquitetura foi feita de coragem e idealismo. Mas este velho brasileiro ressalta que, a despeito de qualquer coisa, o importante é a vida, é buscar melhorar esse mundo injusto. Em suas palavras: as pessoas vão aprender que a vida é um sopro. Cada um vem, dá o seu recado e vai embora, as coisas desaparecem. O importante é a solidariedade, saber que estamos no mesmo barco.
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