Raul Seixas canta: Metamorfose Ambulante

27 fev 2013 . 19:15

Em A Metamorfose, novela de Franz Kafka, publicada em 1915, o caixeiro-viajante Gregor é consumido pela condição que é obrigado a sustentar – o de provedor da família. Sua metamorfose, neste caso, é algo terrível. É a total marginalização social. E, sem possibilidade de interação com outras pessoas ele imerge em um mundo de dor e crueldade.

Quase 60 anos depois Raul Seixas daria um novo sentido ao termo “Metamorfose”. Na poesia simples da música Metamorfose ambulante ele reverencia a ideia de romper com padrões sociais, chamados de “aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Para Raul, a possibilidade de mudar constantemente é libertadora.

O músico aponta para uma superação do acirramento político-ideológico que marcou sua época. Guerra fria em um mundo bipolar, e ditadura militar em um Brasil dominado pela censura e repressão, produziram movimentos sociais e culturais, marcados pelo radicalismo. Naquele contexto Raul usou, de forma brilhante, a metáfora da transformação para criticar as opiniões dogmáticas que davam o tom do debate social. Sua metamorfose apontava para a democracia brasileira e para seu direito de exibir suas opiniões sem medo da censura.

Enquanto para Kafka a metamorfose é um ato involuntário, para o qual a sociedade de massa conduz o homem, para Raul Seixas ela é condição natural do ser humano, que é capaz de pensar, compreender, criar e ser crítico. Um mesmo conceito, com sentidos opostos. Um conceito que pode ser bom ou ruim, dependendo de como é empregado.

Metamorfose Ambulante

(Composição: Raul Seixas/1973)

Intérprete: Raul Seixas

Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Eu quero dizer
Agora, o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

Eu vou lhe desdizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

 

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