02 maio 2012 . 12:18
Documentário resgata vida e obra de Wilson Simonal, cantor de suingue, acusado injustamente de participar da ditadura militar na década de 1970.
FONTE: Carolina Maria Ruy
Simonal, Ninguém Sabe o Duro que Dei
2009, Brasil
Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal
Simonal tinha charme, tinha suingue. Simonal era alegria. Só que, metido, Simonal se meteu onde não foi chamado. Ele não era homem afeito aos assuntos de política e, em sua ingenuidade, falou o que não devia.
Mal ele sabia o quanto isso lhe custaria naquela época. Uma desconfiança, uma palavra mal colocada, e pronto, ele caia no jogo de extremos da direita e da esquerda. Na teia de radicalização de opiniões sociais e… políticas.
Simonal se meteu a dar opinião. Era demais para as elites daqueles dois extremos que um negro de origem pobre, orquestrasse o maracanazinho e tivesse o público aos seus pés. Aos olhos daquelas elites aquele negro devia ter um pecado muito grande por detrás. E quando houve um indício de qualquer pecado, sua punição foi implacável. Alguns de seus pares, músicos, acreditando ostentar verdades absolutas, prontamente o julgaram e o condenaram culpado pela situação.
Simonal agora era o infiltrado. O espião do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). O que? Aquela era uma terminologia tão estranha a Simonal e tão distante de sua pilantragem inocente.
A alegria agora converteu-se em preocupação. Em justificativas. Em processos áridos, longos, depreciativos. A alegria converteu-se também em repressão, como tudo naqueles anos de chumbo.
Simonal deixou de ser. Ainda vivo, tornou-se sombra dele mesmo. Não teve segunda chance.
Mas os anos de chumbo ficaram para trás. Outras gerações vieram. E com elas, discursos panfletários e radicais também ficaram para trás. Com os novos tempos as ditaduras da direita e da esquerda ficaram velhas e sem sentido.
O que ficou foi a história. A história do destino injusto de Simonal. As seqüelas da violenta ditadura militar. As seqüelas do discurso autoritário e repressor de grupos esquerdistas. Ficou a alegria e o suingue de Simonal. Ficou a promessa de uma geração que tornou possível, depois de tantos anos, a produção de um filme que resgata a memória do cantor. Uma resposta, enfim, proclamada tantas vezes para quem nunca quis ouvir. Simonal agora pode falar e cantar. E a nova juventude gosta de ouví-lo.
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